AMPLIAR Temos um papel importante a desempenhar...
A erva-das-pampas, cujo nome científico é Cortaderia selloana, foi amplamente plantada como espécie ornamental. Com as suas plumas grandes e vistosas, tem feito as maravilhas da decoração um pouco por todo o mundo, seja dentro de um vaso, numa loja, restaurante ou festa. As plantas, que podem atingir 4m de altura e outros tantos de largura, são vistosas e atrativas, com as folhas a lembrar uma fonte de água. Amada por uns, odiada por outros, rapidamente conquistou o mundo. Mas o que muitos não sabem, é que a erva-das-pampas é uma espécie exótica invasora: proveniente da região das Pampas da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, tem plantas femininas e plantas hermafroditas, que se reproduzem com muita facilidade, sem qualquer auxílio do ser humano; cada planta feminina pode produzir milhões de sementes que são facilmente dispersas pelo vento, podendo germinar a vários km de distância, especialmente junto às vias rápidas e caminhos de ferro; rapidamente atingem densidades muito elevadas, formando manchas monoespecíficas, com consequências graves para o ambiente, saúde publica e economia. Por exemplo, competem com as plantas nativas, não as deixando desenvolver, impedem a circulação da fauna em áreas densamente invadidas, provocam cortes e alergias, afetam o turismo quando diminuem a qualidade da paisagem e a biodiversidade e geram custos muito elevados em controlo.
Nas últimas décadas, tem-se assistido a
uma crescente invasão por esta planta invasora um pouco por toda a Europa,
especialmente no sul do Arco Atlântico, que inclui Portugal, Espanha e França.
Por este motivo, nasceu o projeto LIFE Stop Cortaderia, um projeto
transnacional. Lidera o projeto a Organização Não Governamental AMICA cuja Sede
é na região da Europa mais invadida por erva-das-pampas, a Cantábria no norte
de Espanha, e são parceiros a AMPROS, SERCA e SEO/BirdLife, de Espanha, a
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e o Instituto Politécnico de Coimbra, de
Portugal. Juntos, trabalham desde 2018 para a criação de uma aliança
internacional de luta contra a erva-das-pampas, em que cada parceiro tem a seu
cargo um conjunto de ações que vão desde o controlo das plantas, à investigação
e a ações de divulgação e formação.
No âmbito deste projeto nasceu a Estratégia
Transnacional de Luta contra a Cortaderia selloana, um documento que
define linhas de ação para controlar a expansão da espécie, promovendo e
facilitando a coordenação e o compromisso comum entre as diversas entidades dos
territórios afetados pela invasão da erva-das-pampas. Até ao momento, aderiram
à Estratégia 124 entidades de Portugal, Espanha e França, que estão a trabalhar
para o controlo da espécie, cada uma na medida das suas possibilidades e
competências, desde a remoção das plantas, a ações de formação, divulgação e
deteção precoce, restauro ecológico, investigação, comunicação, etc.
Adicionalmente, vários municípios portugueses, incluindo Braga, Esposende e
Amares, ganharam recentemente financiamento, através do Fundo Ambiental, para
implementarem “Intervenções para o controlo da erva-das-pampas (Cortaderia
selloana) em Portugal Continental”.
Muitas vezes mencionada como “ameaça silenciosa”, a invasão por plantas invasoras ocorre de forma subtil e discreta, passando despercebida à maioria dos cidadãos. Quando as pessoas se apercebem que algo não está bem na paisagem, é frequentemente tarde demais e a invasão já atingiu proporções tais que as consequências em termos ecológicos, económicos e para a saúde pública já são muito significativas. A erva-das-pampas não é exceção e, apesar de muitas pessoas não saberem que é uma planta invasora e outras adorarem as suas plumas, a verdade é que muitos cidadãos do norte e centro litoral já começaram a perceber que algo não está bem. A paisagem nestas regiões tornou-se homogénea e coberta de plumas, indicando que outros valores naturais terão desaparecido para dar lugar à erva-das-pampas. Assim, é urgente atuarmos em conjunto, para travar esta invasão que nos afeta a todos.
O controlo da erva-das-pampas vai muito
além da remoção das plantas pelos Municípios, Freguesias ou empresas, que têm responsabilidade
na remoção e divulgação do problema. Todos nós temos um papel importante a
desempenhar: aprender sobre a espécie é o primeiro passo, se não soubermos os
problemas que ela causa, nada faremos para a controlar. Podemos efetivamente
ajudar a controlá-la, ou colocá-la no mapa (https://cortaderia.cm-gaia.pt/),
porque para a gerir e controlar é preciso saber onde está. Não a devemos usar
como ornamental nem apanhar plumas do campo para decoração, situação muito
comum por falta de conhecimento. Podemos ajudar a divulgar o problema, seja no
ambiente familiar, escolar ou de trabalho; passar palavra é fundamental.
Podemos sacudir a roupa e sapatos depois de um passeio em zonas invadidas, já
que as sementes se agarram com muita facilidade! Por fim, podemos ajudar a
cuidar da biodiversidade autóctone, as plantas invasoras no geral e a erva-das-pampas
também, invadem principalmente zonas perturbadas, ou mal conservadas. Ecossistemas
equilibrados são muito mais resistentes à invasão.
Mónica Roldão Almeida
Mestre em Biologia da Conservação. Investigadora no CFE-ESAC/IPC. Colaboradora da plataforma Invasoras.pt no projeto LIFE Stop Cortaderia
Colabore no mapeamento desta invasora. Participe na proteção do património vegetal nativo!
Louvamos a candidatura do Município de Braga ao Fundo Ambiental, para intervenções de controlo da erva-das-pampas (Cortaderia selloana), pois esta planta invasora é visível em várias freguesias do concelho e, caso não seja combatida, corre-se o risco de se tornar incontrolável.
Neste processo é indispensável a colaboração de quem está mais perto: as Juntas de Freguesia/Uniões de Freguesia e a população.
Há erva-das-pampas na freguesia onde vive? Então registe-a aqui: https://cortaderia.cm-gaia.pt/
Para ADICIONAR AVISTAMENTO deverá registar-se como utilizador dessa plataforma, que foi criada para o efeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário