INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2023 comemorou 46 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

ENTRE ASPAS - "A nossa forma de falar: Língua, património e identidade"

Temos ou não temos o direito de usar a nossa forma de falar, mesmo que ela transporte elementos regionais?
Diário do Minho - 26 dez 2016

Sabe o que é que é um cascavelho? Se tiver menos de 40 anos, provavelmente não.
É uma palavra regional (um regionalismo), do Minho e arredores. E até que ponto temos o direito de usar a forma de falar e as palavras que aprendemos na infância?
Esta segunda questão, assim colocada, parece só ter uma resposta: “sempre que quisermos”.
Mas então, por que é que acontecem casos como o seguinte, por mim presenciado: a mãe, com mais de setenta anos, numa conversa em família alargada (filhos, genros, noras, netos), utiliza uma expressão (“botar fora”) que a filha (professora do ensino básico) considera desadequada e publicamente lhe diz para não usar, mas usar outra que considera mais “correta” (“mãezinha, não diga ‘botar fora’, diga ‘deitar fora’”).
Quem for mais sensível a questões de uso da língua, com certeza que já assistiu a situações do género ou semelhantes. Aconselharem (às crianças na escola, por exemplo) a pôr de lado, e substituir por outras, as palavras aprendidas na infância, se consideradas como regionalismos. Conheço vários exemplos de casos do género: o professor mandar o alunos não usar palavras e construções como botar, cabaço, caldo, caruma, engaço, à beira de, e substituí-las por deitar, abóbora, sopa, agulhas, ancinho, ao pé de.
Mas, então, temos ou não temos o direito de usar a nossa forma de falar, mesmo que ela transporte elementos regionais?
A tentação de responder afirmativamente à questão deve ser moderada. Embora ninguém seja proibido por lei de usar os regionalismos que quiser, há uma noção de norma padrão, a noção de que há formas mais corretas de falar do que outras, que é um poderoso mecanismo de pressão social para preferir certas formas linguísticas em vez de outras. Será um pouco idealista pensar que posso sempre usar a minha forma materna-regionalista de falar em todos os contextos. A norma padrão impõe, muitas vezes, que eu evite a palavra ou expressão que aprendi em casa e use a que a escola me aconselha.
A questão está até onde é que deve ir esta imposição de abandono da nossa forma de falar e escolher “a forma de falar das pessoas cultas”, como por vezes aparece indicado. Este modo de ver as coisas parte do pressuposto que o “falar das pessoas cultas” não é um falar regional ou que teve origens regionais, no caso português na região de Lisboa, que funciona como região padrão para os usos do Português Europeu. A médio e longo prazo, este processo (substituir os termos da minha região pelos de outra) leva a que o vocabulário “regional” (de todo o país, exceto de Lisboa) acabe por passar para a zona proibida dos regionalismos a pôr de lado.
A pressão para a unificação linguística é enorme: com a televisão, a escola e os modernos métodos globais de comunicação, a tendência para todos falarmos das mesmas coisas e da mesma forma é avassaladora. E podem apontar-se-lhe vantagens (unificação e impedimento da fragmentação linguística: a língua fica com mais unidade). Mas serão só vantagens?
A primeira desvantagem de aceitarmos a substituição total das palavras da nossa região por outras equivalentes, provindas de uma outra, é a de reconhecer que a nossa região é perdedora. Há quem não se importe, mas também há quem não o queira. A maior parte dos falantes, no entanto, nem tem consciência disso. Basta ver a tendência de substituição dos termos da nossa região minhota/nortenha pelos do sul. Para além dos já atrás referidos, a palavra guarda-sol (anterior geração) já foi substituído por guarda-chuva e esta palavra já está a ser substituída por chapéu-de-chuva e por (simplesmente) chapéu (significando guarda-chuva). E muitos outros casos: sapatilhas são ténis, picheleiros são canalizadores, bolinhos de bacalhau são pastéis de bacalhau.
Mas nestes casos é “só” (e não é pouco) uma questão de preservação do termo formal, da forma da palavra, já que o conceito é idêntico entre o termo da nossa região e o que o vem substituir. Mas há casos em que não é apenas isto que acontece, em que abandonar a nossa palavra é esquecer toda uma dimensão cultural. E aproveito agora o caso de cascavelho referido no início deste texto. É um regionalismo, uma palavra que as novas gerações não conhecem, mas que ainda muita gente utiliza para se referir às castanhas que não chegam a crescer, ficando apenas como cascas raquíticas entaladas nos ouriços. O termo é testemunha de uma época em que as pessoas sabiam como era o processo de apanha das castanhas, onde tinham que distinguir o que era útil (castanhas) do inútil (cascavelho). Por isso, o termo era muitíssimo usado e também metaforicamente, aplicando-se a crianças ou pessoas frágeis, sem grande consistência. O termo testemunhava toda uma forma de vida rural e a importância da castanha nos hábitos vivenciais. Pois esta palavra não aparece registada em nenhum dicionário de língua portuguesa. Pelos dicionários, não ficará na história da língua. É como se nunca tivesse existido, ela e o seu uso, valor cultural e vivencial que teve em muitas e muitas gerações.
Perdermos as palavras que são nossas, da nossa região, é perder um pouco dos testemunhos da nossa forma de viver. As palavras não são só sons arbitrários ligados a significados. Elas representam conceitos, representam a forma como vivemos e como pensamos as nossas inter-relações com as coisas e com os outros. Por isso, é que se diz que a língua é património. E isso significa que se eu desprezar completamente a língua da minha região, desprezo completamente parte do património em que cresci e vivi.
A pressão para falarmos todos da mesma forma e substituirmos as palavras da nossa região por equivalentes de outra, considerada “das pessoas cultas”, é enorme, sobretudo num país supercentralizado como Portugal. No entanto, a consciência de que a minha forma de usar a língua, ainda que com caraterísticas regionais, também é meu património e que, dentro de certos limites, não tenho que ter receio de a usar, também é uma forma de ecologia linguística (e portanto de cidadania no sentido mais nobre do termo), porque permite contribuir para preservar numa língua as suas dimensões múltiplas e abrangentes.
José Teixeira
Professor de Ciências da Linguagem-Univ Minho
jsteixeira@ilch.uminho.pt
                                                                                                                                                                     
Para saber mais:

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS e ÓPTIMO 2017


A ASPA deseja aos seus associados, colaboradores e amigos, Boas Festas e um óptimo 2017. 
Que o novo ano nos surpreenda com medidas que há anos reivindicamos em matéria de defesa e valorização do Património, de Braga e do Minho, é o nosso maior desejo.

Alguns exemplos...


Parque Verde e Património
Recolhimento das Convertidas
Teatro Romano


Insula das Carvalheiras
Palácio D. Chica
Salão Egípcio
Que seja o fim das demolições. A garantia da reabilitação!



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

ENTRE ASPAS - "Camilo, entre Braga e o Bom Jesus"

Camilo Castelo Branco foi romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor, sendo um dos escritores mais marcantes da literatura portuguesa. 
Teve uma vida atribulada, com vários episódios ocorridos em Braga.
Fernando Braga dá-nos a conhecer alguns desses episódios.
Diário do Minho - 12 dez. 2016

Diário do Minho - 28 nov. 2016

Extrato de uma carta de Camilo Castelo Branco a  Francisco Martins Sarmento, integrada na "Coleção da Sociedade Martins Sarmento". Esta e outras cartas estão expostas no Museu da Cultura Castreja, em Briteiros.

Localização de hospedarias de Braga. Extracto de "Memórias do Bom Jesus do Monte e Roteiro ou Abreviada Notícia de Braga", de Diogo P Forjaz Sampaio Pimentel, Coimbra, 1876, pág. 146

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

ANTRE ASPAS - Concurso "Conta-nos e conta connosco" 1ª edição 2015.16 - a defesa, o estudo e a divulgação do património das pessoas

As memórias, registadas em diários ou em papéis soltos, são património das pessoas.
Se algumas famílias os entregam  a organizações, outras não reconhecem o seu valor  e permitem que se percam dados importantes sobre os seus antepassados que são, também, um forte contributo para a compreensão de um período da nossa História comum.

O Arquivo dos Diários pretende valorizar, divulgar e visibilizar memórias de gente comum, que sejam transversais a todas as esferas da sociedade em termos de idade, profissão, género, raça, experiência de vida, entre muitas outras condições e circunstâncias - assim contribuindo para um conhecimento mais democrático e fiel da História.
Diário do Minho - 14 Novembro 2016
A Associação Arquivo dos Diários (AADD) é uma associação que nasceu no final de 2013 com o objetivo de recolher e preservar memórias autobiográficas fixadas em suportes diarísticos.
O Arquivo dos Diários pretende valorizar, divulgar e visibilizar memórias de gente comum, que sejam transversais a todas as esferas da sociedade em termos de idade, profissão, género, raça, experiência de vida, entre muitas outras condições e circunstâncias - assim contribuindo para um conhecimento mais democrático e fiel da História.
Desde 2014 que a AADD, através de uma parceria com a Junta de Freguesia de Arroios, tem a sua morada física na Biblioteca de São Lázaro em Lisboa, onde recolhe, cataloga e preserva estes testemunhos únicos - diários, cartas ou qualquer outro suporte que permita reconhecer histórias de vida -, perpetuando-os como património cultural português também através da sua disponibilização para consulta pública.
Não obstante a sua sede em Lisboa, a AADD tem uma dimensão nacional e também internacional. Em 2015 foi parceira do projeto Through the Memories, financiado pela União Europeia, no âmbito do programa Europe for Citizens. Desde então, AADD foi convidada a participar em atividades relacionadas com a memória, tais como o Festival Traça, a Festa do Cinema Italiano, o Festival Silêncio e o Open House da Trienal de Arquitectura de Lisboa.
Já este ano, a AADD organizou para o grande público o ciclo de cinema sobre a memória “Fitas de Memória” e as sessões temáticas mensais na Biblioteca de São Lázaro “Terças em Conversa”.

O Concurso: cerimónia de divulgação do “diário vencedor” 
A primeira grande ação de divulgação da AADD decorre desde 2015: a 1ª edição do Concurso “Conta-nos e conta connosco”.
Trata-se de um concurso anual que visa implementar um acervo único de memórias autobiográficas e trazer mais visibilidade à missão do Arquivo.
São admitidos a concurso diários - obras escritas autobiográficas, originais, não publicadas, sem tratamento editorial e em língua portuguesa. Os diários participantes são selecionados através de um Júri Popular que escolhe três finalistas a serem avaliados por um Júri Técnico. A obra vencedora é publicada em formato livro, sendo que há a possibilidade de ser criada uma coleção com a temática do Concurso. 
Nessa primeira edição participaram 12 diários, cuja fase de entrega foi entre 1.9.2015 e 1.3.2016. A avaliação pelo Júri Popular (13 membros) teve lugar entre 2 de Março e 30 de Junho e a seleção do vencedor pelo Júri Técnico (3 membros).
A cerimónia de divulgação do diário vencedor do Concurso “Conta-nos e conta connosco” ocorre no sábado, dia 12 de Novembro de 2016, pelas 18h30, no Mercado de Culturas em Arroios, Lisboa. 
A AADD aproveita ainda esta data e espaço para inaugurar a exposição “A Memória e os Lugares - Um percurso entre passado e presente”, que exibe desenhos realizados no âmbito do programa Open House Plus da Trienal de Arquitetura de Lisboa deste ano. Esta foi uma atividade concretizada pelo Arquivo dos Diários em parceria com os Urban Sketchers de Portugal que convidava os participantes a seguir um percurso para desenhar lugares lisboetas de hoje a partir de memórias que descreviam esses sítios.

A descentralização
Com o objetivo de descentralizar e alargar a dimensão do Arquivo, a direção da Associação decidiu recentemente incluir novos membros no Norte e também na zona das Beiras, no Alentejo, no Algarve e nas Ilhas. É aqui que nos integramos como colaboradores da Associação, não só para uma maior divulgação das atividades do Arquivo mas também para angariação de materiais autobiográficos no Norte, tendo em vista a próxima edição do Concurso anual, que em breve será anunciado. 
Parafraseando o que referimos anteriormente (“Entre Aspas” de 25.01.16): “Participar no concurso é uma forma de começar. Salvar a nossa história do esquecimento é uma missão que a todos diz respeito”.

Autobiografias e diários
A este propósito muito teríamos para dizer. Mas fiquemos agora por uma breve alusão a duas obras cinematográficas que tivemos a oportunidade de apreciar recentemente no programa Close-Up em Famalicão e que, melhor que outro exemplo, testemunham a importância do género patrimonial de que estamos a falar.
O filme que Manoel de Oliveira realizou em 1982 com o título “Visita ou Memórias e Confissões” e que esteve arquivado na Cinemateca Portuguesa até à sua morte, conforme o determinara, é bem o exemplo de um filme autobiográfico, simples, despojado e bastante sincero. A propósito de ter que vender a casa onde vivera 40 anos, por motivos financeiros, Manoel de Oliveira assume aqui o papel de apresentador da própria vida, trazendo detalhes sobre os pais, o casamento com Maria Isabel, os filhos, os netos e, é claro, a sua carreira cinematográfica. Manoel de Oliveira fala de si mesmo no que ele próprio assume ser um incomum testamento cinematográfico (não obstante ter tido tempo e energia para realizar ainda mais de 40 filmes).
Igualmente na senda dos testemunhos pessoais, agora sob a forma de epistolografia, o filme “O Homem Decente” (2014), de Vanessa Lapa, dá-nos o retrato da vida e da mente de Heinrich Himmler, o líder das SS e o visionário do extermínio racial na Alemanha nazi. A realizadora, com base na leitura dos escritos do próprio Himmler – cartas, diários e fotografias – escondidos por mais de 40 anos debaixo da cama do próprio, dá-nos uma visão intimista (não menos pacificadora) na abordagem de um tema que o mundo jamais irá esquecer. Com acesso a documentação privilegiada, a realizadora traz-nos o poder e o alcance da informação dita na primeira pessoa.

Ana Maria Macedo maceana@gmail.com
                                                                                                                                                                     
Consultar:



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ENTRE ASPAS - " D. Diogo de Sousa: um príncipe com visão de futuro"


D. Diogo de Sousa marca a transição da Braga medieval, cintada nos seus limites feudais e no alcance imediato da sua catedral, para a urbe moderna, aberta, interactiva com o seu território envolvente e com o mundo.
Diário do Minho - 31 de outubro de 2016
Retomando a evocação do arcebispo mais notável do espaço público bracarense, que nos remete para a mundividência do renascimento português, diríamos que somente a sua referência pretexta um turbilhão de reflexões e uma encruzilhada de saberes universais, que vão do cristianismo aos descobrimentos marítimos; da arte ao urbanismo; da história das mentalidades à geografia; do advento da modernidade ao mundo contemporâneo. D. Diogo marca a transição da Braga medieval, cintada nos seus limites feudais e no alcance imediato da sua catedral, para a urbe moderna, aberta, interactiva com o seu território envolvente e com o mundo.
Apresentadas, no último texto, as principais linhas infra-estruturais da sua obra urbana, como as vias, as praças e o abastecimento de água à cidade, a obra de D. Diogo (1505-1532) ficaria igualmente marcada pelo que hoje chamaríamos de criação e reestruturação de equipamentos colectivos. Neste capítulo, começaríamos pelo privilégio que deu ao desenvolvimento das actividades mercantis e à reorganização administrativa do concelho. Com essa finalidade, mandaria erguer um sistema de alpendres junto às principais portas da cidade, para acolher os viandantes e os almocreves, como também, enquanto medida reflexa, reformaria as alfândegas destinadas a taxar os que vinham vender os seus produtos à cidade. Ao nível dos mercados, regularizou a venda do pescado, junto à porta nova; definiu os açougues, junto à Sé; e disponibilizou a venda do pão, precisamente face ao parvis da catedral, nos baixos alpendrados da casa da Câmara, que concluiu, tendo para o efeito expropriado quatro casas. À sua prelatura ficou associada ainda a renovação das leis municipais, das quais resultou o equivalente a um conselho municipal. Igualmente nos sectores que hoje chamaríamos da saúde, da educação e da cultura, D. Diogo inscreveria algumas das matrizes fundacionais mais significativas. No caso da instalação do Hospital de São João Marcos (1508), dando continuidade à obra antes iniciada, proporcionaria a sua conclusão, transferindo ainda a gafaria para S. Lázaro; no caso dos Estudos Públicos, lançaria as suas fundações (1531), junto ao Largo de São Paulo, não que sem antes tivesse criado uma livraria junto à Sé.
Naturalmente que a simples nomeação de todas as obras que são atribuídas ao seu mecenato, tal foi a sua diversidade e quantidade, implicariam uma fastidiosa listagem de referências, que transcenderia a finalidade deste sumário. Isto tudo se incluíssemos os bens que mais directamente estavam sob a sua tutela, como os locais de culto, templos, capelas, designadamente, no que toca à sua edificação, reforma e ampliações. Mais a mais se descrevêssemos os efeitos da sua acção ao nível da organização da própria igreja, das reformas da clerezia e das práticas sacerdotais, da arte sacra, etc.
Dentro do registo dos conteúdos fundamentais que nos propomos para este resumo, relevaríamos as intervenções perpetradas na Misericórdia, que lhe é atribuída (1513), já que fundara a do Porto quando aí foi seu Prelado; e a remodelação do paço arquiepiscopal, no qual destacaríamos o arranjo do largo fronteiro e a criação de um jardim interior, de feição palaciana, bem ao gosto da época. Aliás, releve-se sobre o último a importância referencial que deverá ter tido no arranjo do logradouro de algumas das mais vetustas casas das imediações. Para tal, basta observar a vista de Braga do atlas de Braun (1596) para compreender a sua importância na morfologia urbana local.
Por fim, não podemos deixar de salientar as obras de arranjo dos espaços públicos. Praticamente toda a cidade sentiu o efeito desse intervencionismo generalizado durante este período. Desde a implementação de diversas cruzes frente às portas da cidade e nos principais cruzamentos, até ao exemplar arranjo associado à construção da octogonal ermida de Sant’Anna (actual av. Central), constituída por lajes com epigrafias latinas e cintada pelos marcos miliários que D. Diogo mandou recolher das velhas vias romanas que demandavam Bracara Augusta. Esta iniciativa teve um vasto alcance simbólico, já que de algum modo traduz a introdução em Braga de uma consciência humanista e patrimonial das origens romanas da cidade, que passaram a constituir um dos seus principais marcadores identitários de longa duração.

Plenamente consciente da dimensão e do alcance da sua obra, D. Diogo, já nos últimos anos da sua vida, evocando o que Octaviano declarara ter feito por Roma, quando a achou rústica, de barro e sem templos nem gente nem edifícios (…) a [tinha] feita assim de edifícios públicos como privados, continuando D. Diogo, com acrescentamento de muito povo e número de mercadores e trato e oficiais das melhores cousas do reino. Daí que, ainda hoje, a compreensão da cidade de Braga só faça sentido conhecendo-se de antemão qual foi a obra urbana de D. Diogo de Sousa.
Miguel Bandeira

                                                                                                            
Para saber mais:
Este é o 10º texto da série "Aprender História Descobrindo a Cidade". Mais um contributo para divulgação da História de Braga.