INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2024 comemorou 47 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

COLÉGIOS DE S. VICENTE

Dedicado artesão da palavra escrita, o dr. Domingos Alves oferece-nos mais um trabalho que resulta da sua qualidade de recolector de histórias e memórias da freguesia de S. Vicente. 
"Colégios privados em S. Vicente: Se alguns desapareceram, outros vieram para ficar", num volume de 114p., bem ilustrado, editado pela Junta de Freguesia de S. Vicente (Braga), fornece-nos um inventário daqueles estabelecimentos de ensino que tiveram ou têm sede na referida freguesia e de cuja existência o autor teve conhecimento.
Assim, para além do prestigiado Colégio D. Diogo de Sousa (que eu, mal chegado a Braga, frequentei no 1º semestre de 1959, para completar o 2º ano do ensino lineal), recorda-nos o tão inovador Colégio do Espírito Santo, em cujo edifício depois se instalou o Liceu Sá de Miranda (onde eu fiz o 2º e 3º ciclos, entre 1959 e 1964), o Colégio S. Geraldo, o efémero Colégio de S. Tomás de Aquino e ainda o bem conhecido Colégio Dublin (a que esteve ligado o Ten. Coronel Francisco Ogando, entusiasta membro da ASPA e no qual o meu filho fez a primária). Escasseiam (ou não foram encontradas) fontes documentais sobre a maioria destes colégios e não foi feita uma pesquisa profunda na imprensa, mas mesmo assim o autor carreia informação preciosa baseada na também escassa bibliografia e em depoimentos orais, revelando um conjunto de fotografias bem interessante. Domingos Alves abre portas para uma investigação mais exaustiva e fornece um contributo importante para uma futura história do ensino em Braga, para o qual o autor do prefácio, Prof. José Viriato Capela esboça algumas pistas. 

Bom seria que em cada freguesia do concelho bracarense aparecessem investigadores com vontade de reconstituir o seu passado como é o caso de Domingos Alves que, além do mais, é um estrúneo defensor do património cultural vicentino, cada vez mais ameaçado pela falta de "bom senso e bom gosto" da maioria autárquica que a partir da praça do Município governa Braga. 

Breve comentário de Henrique Barreto Nunes

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

IMPORTÂNCIA DO PARQUE ARBÓREO EM BRAGA

Em Braga, o debate centrado na forma como o município tem lidado com as árvores já não é recente.

A ASPA procurou promover a reflexão relativamente a esta problemática, junto do executivo municipal, do serviço autárquico com responsabilidades na matéria e de técnicos que tomam decisões no terreno, de modo a incentivar uma política ambiental, de âmbito local, que garanta um parque arbóreo que corresponda às exigências do presente e do futuro. E alertou a população, para que não houvesse dúvidas quanto às consequências de podas desnecessárias, errada ou inadequadas, e/ou do abate de árvores saudáveis, de modo a evitar a pressão junto do município no sentido da realização de podas ou abates que não se justificam.

Relembramos, neste final de 2020, o histórico desta luta em que a ASPA tem mantido um papel ativo e, por vezes, incómodo.  Esperando que esta informação seja útil a quem, mais recentemente, se aliou a esta luta.

A intenção, por parte do município, de abater elevado número de exemplares, em espaço público da área urbana, foi divulgada no final de 2018. De imediato a ASPA atuou junto do vereador do Ambiente e do Presidente da CMB, no sentido de evitar a perda de árvores em bom estado fitossanitário, apelando à realização de um estudo atual, por entidade acreditada.
O estudo fitossanitário realizado pela UTAD avançou, em bom tempo, na sequência do nosso alerta.

Vejamos, então, a sequência de acontecimentos que evitaram, em 2019, o abate de um número significativo de exemplares que, segundo o estudo da UTAD, não se justificava. 
  • o município tencionava abater 123 árvores nas freguesias urbanas de S. Victor e S. Vicente; 
  • na sequência do estudo realizado pela UTAD (junho 2019), que incluiu 288 árvores indicadas polo município, foram sinalizadas 31 para abate, 94 para podas e 4 para tratamento fitossanitário; 8 árvores mortas para retirar.
  • assim, das 123 árvores previstas para abate, só 31 (+8) deviam ser retiradas. 
Perante o estudo compete ao município atuar no sentido da gestão do parque arbóreo. 
Mas a ação cidadã compete aos munícipes...  

A gestão do parque arbóreo é um assunto de grande importância ambiental, na medida em que tem consequências diretas a nível local e, como tal, espera-se (sempre se esperou) uma atenção especial por parte dos partidos políticos com representação na Assembleia Municipal.   
Os alertas da ASPA, através dos entre aspas quinzenais são, muito frequentemente, um apelo à reflexão e à ação no sentido da defesa do interesse público: por parte do município, dos partidos políticos e dos cidadãos.

Louvamos a ação cidadã em defesa das árvores (finalmente), esperando que seja genuína, em defesa de um património que a todos pertence. 

É importante não esquecer que, no presente e no futuro, face às alterações climáticas que se anunciam para as próximas décadas, o parque arbóreo é essencial à qualidade de vida em zona urbana e, também, à preservação da biodiversidade. 
Chamamos à atenção, mais uma vez, para a importância da revisão do Título II do Código Regulamentar de Braga, relativo a Espaços Verdes, de modo a que:
  • seja atualizado face aos desafios ambientais atuais: combate a espécies invasoras, alterações climáticas, etc.;
  • estabeleça o quadro de transferência de atribuições  e competências para as autarquias locais (Juntas de Freguesia/Uniões de Freguesia), em matéria  de manutenção e gestão de espaços verdes (espécies adequadas, manutenção, etc.). 
Relembramos alertas e tomadas de posição da ASPA em defesa do parque arbóreo situado em espaço público... 

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Outros alertas:
2019
- Braga: qual o estado de saúde do parque arbóreo  (trabalho de campo da UTAD em julho de 2019) ...mais informação
2018
2017:
2016:
2015:
2014: 
2013: 
2012:
2011:
2004:
2001:
- Património arbóreo urbano - Quo Vadis?

         

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

ENTRE ASPAS "Maçã Porta-da-Loja, uma tradição de Natal"

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O Engº Raúl Rodrigues apresenta-nos curiosidades sobre a maçã, algumas que recuam a um passado longínquo, e chama a atenção, em particular, para uma tradição de Natal associada à maçã Porta-da-Loja...


"Em Braga, a tradição de comer a maçã Porta-da-Loja assada no borralho e afogada numa malga com vinho verde tinto com açúcar, na noite de consoada, ainda está bem patente em muitos lares."




segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

ENTRE ASPAS: "Memória, património e preservação digital: para quando uma política nacional coerente?"

"Muito se fala hoje em dia, e porque é essa mesma a natureza do tempo em que vivemos, da digitalização do património cultural, da sua identificação, descrição, armazenamento, preservação e comunicação através de bases de dados, bibliotecas, arquivos e museus digitais."

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Memória, património e preservação digital: para quando uma política nacional coerente?
Manuela Barreto Nunes apresenta exemplos de boas práticas nesta matéria.  E alerta para a importância de uma política nacional capaz de utilizar os fundos europeus destinados a digitalização do património no sentido da criação de infraestruturas que sirvam todo o país, permitindo que as regiões desenvolvam os seus próprios programas, criem as bibliotecas, arquivos e museus que representam a herança local e a memória de proximidade ancorados num sistema sólido e com garantias. 

Mais informação sobre o assunto:

CYARK   EUROPEANA    RNOD: Registo Nacional de Objetos Digitais

Em breve a AquaLibri (Biblioteca Digital do Cávado) na CIM Cávado

terça-feira, 24 de novembro de 2020

ENTRE ASPAS "Braga e o Centro Histórico. Os Largos"

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Neste texto, Francisco Sande Lemos  "orienta" uma "visita" rápida ao passado que nos permite compreender aspetos da evolução urbana de Braga. 

"O Centro Histórico possui hoje uma rede de largos, que conferem à cidade uma matriz peculiar em que alternam as ruas com praça, sendo talvez esta trama um dos principais encantos do centro de Braga"

"... os largos são pontos de descompressão urbana. Por isso mesmo justificam um carinho especial por parte da edilidade".

Focaliza-se no Largo Carlos Amarante, "... que talvez seja o que está menos cuidado e mais ferido"



terça-feira, 10 de novembro de 2020

ENTRE ASPAS "Património Cultural Edificado do Concelho: alteração ao Código Regulamentar de Braga

Entre aspas
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Na sequência da intervenção que a ASPA tem mantido, e reconhecendo o interesse da discussão pública das alterações ao Código Regulamentar de Braga - parte D - Centro Histórico, foi entendimento, da associação, apresentar ao Município um conjunto de notas e sugestões que visam um melhor alcance, operacionalidade e eficácia do Documento, participação de que damos conhecimento público.

Neste texto relembramos um conjunto de alertas que a ASPA tem efetuado ao município de Braga, no sentido da salvaguarda e valorização do edificado, praças e ruas históricas, tanto na vertente da urgência da sua classificação de âmbito concelhio, como reclamando competência e rigor na análise de projetos que têm em vista a intervenção em edifícios de valor arquitetónico ou integrantes de conjuntos de importância patrimonial relevante, como ainda no apelo ao exercício da fiscalização de obras (múltiplas vezes realizadas ao arrepio dos projetos aprovados) e à exigência de afixação de avisos em edifícios e locais para os quais se encontra em curso a elaboração de estudos e projetos de intervenção.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

ENTRE ASPAS "O Largo Paulo Orósio e a estratégia urbanística para a cidade de Braga"

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Será que quem habita em Braga dispõe de informação que lhe permita recuar no tempo e imaginar a cidade de um passado mais longínquo
?   É esse recuo, no tempo, que Francisco Sande Lemos nos proporciona com este texto, em que reune informação que falta à maior parte das pessoas que percorrem as ruas e praças desta cidade histórica.
Hoje em dia as cidades distinguem-se pela sua genuinidade, pelo legado que souberam preservar e valorizar. Daí que o conhecimento da cidade do passado deva ser o suporte para decisões a tomar no presente, de modo a garantir um futuro sustentável.

Para o Largo Paulo Orósio nunca foi programada nenhuma escavação, apesar de ter sido o local do Forum da urbe. Porquê? 
A resposta é simples: o Projeto de Bracara Augusta nunca teve um financiamento científico expectável, tanto por parte do poder central como da Autarquia, apesar dos pedidos e insistências nesse sentido. Ampliar

O noticiado projecto de Hotel (previsto para o espaço Quartel) está condicionado pelo parecer do Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Braga, que determina sondagens arqueológicas prévias, em resultado das quais o projeto poderá ter que ser substancialmente alterado. O texto desse parecer será divulgado no blogue da ASPA.

Numa cidade histórica, como Braga, importa que a população conheça os espaços que escondem valores arqueológicos, para que compreenda o território e seja capaz de argumentar em sua defesa e divulgação.
Assim, a ASPA entende que se justifica um relatório semanal no website da Câmara Municipal de Braga, logo que os estudos previstos se iniciem, a fim de que a cidade os possa acompanhar.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

ENTRE ASPAS "Em busca de uma estratégia cultural"


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O planeamento da atividade cultural de uma cidade de média dimensão talvez não precise de mais do que duas ou três ideias simples e claras para se afirmar. Precisa, no entanto, que essas ideias, além de coerentes e vinculadas a uma estratégia que concilie curto, médio e longo prazo, sejam o resultado de uma discussão aberta, participada e assumidamente democrática. Um planeamento sério, que ambicione estruturar práticas, criar novos hábitos de consumo e mobilizar os agentes culturais, não pode deixar ninguém de fora, sendo indispensável resistir à captura por grupos de interesse particulares, bem como à imposição de limitações determinadas por qualquer circunstancialismo político.

São vários os requisitos para se conseguir um bom planeamento cultural, sobretudo quando o projetamos no longo prazo (lembramos que o horizonte proposto é 2030) e quando nos situamos numa cidade como Braga, onde quase tudo está por fazer.




quarta-feira, 19 de agosto de 2020

ENTRE ASPAS "Braga: temos uma feira do livro ou uma loja digital?"

Uma Feira de Livros é um espaço urbano, de preferência, onde durante um determinado período de tempo se agrupam dezenas de livreiros e editores, instalados em stands com as suas edições ou livros de outros editores, vendendo com descontos mais ou menos apelativos.


Temos aqui, num só texto, duas ações contrárias: uma crítica severa a esse ludíbrio grosseiro de converter uma plataforma digital numa “feira do livro” e um apelo positivo para que essa plataforma se mantenha ativa e disponível para livreiros e editores que dela precisem e assim beneficiando o empreendedorismo cultural e um público disperso pelas várias partidas da terra.

Estamos perante uma ideia boa que pode ser mesmo útil e impactante, mas que pode também reduzir-se ao mais triste e grotesco show-off.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Entre Aspas"Visão Estratégica e Direito à Cidade"

O documento Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030, apresentado a 21 de julho de 2020, será a base para o Plano de Recuperação a apresentar por Portugal à Comissão Europeia, com vista à utilização dos fundos europeus disponíveis.  




 

Há no documento referências específicas a Braga. Nas suas páginas, sobre a cidade, dedica a maior parte da atenção às questões da “mobilidade” e do “ambiente”. Deixa apenas um curto parágrafo para política habitacional.

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Manuel Sarmento alerta para vertentes do desenvolvimento económico e social do país ausentes no documento e alerta para a importância estratégica da requalificação urbana, como projeto público da máxima prioridade, pela qual passa o nosso futuro demográfico, o nosso bem-estar social e o nosso progresso económico.


Consultar: 

Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030 (documento)

quarta-feira, 22 de julho de 2020

ENTRE ASPAS "Recolhimento das Convertidas: olhares cruzados"

O edifício "Recolhimento das Convertidas", em Braga, foi inaugurado em 1722 como espaço de acolhimento de mulheres.
A fachada barroca, que vemos da Avenida Central, esconde um interior que surpreende quem o visita. A descrição sobre este edifício, disponível na página da DGPC, é esclarecedora sobre a sua importância à época e sobre as razões que levaram à sua classificação, em 2012, como monumento de interesse público com uma zona especial de proteção (ZEP), que inclui edifícios contíguos.
O interior desenvolve-se em torno de um pátio em forma de U, em redor do qual existem dois pisos com pequenas celas/quartos de recolhimento de mulheres, pequenos e muito simples. A capela barroca, de planta retangular, com teto abobadado pintado com motivos decorativos, tem gelosias no coro-alto por onde as mulheres assistiam à missa e outras celebrações sem serem vistas.
É um edifício que, segundo a DRCN, possibilita um restauro praticamente integral sob o ponto de vista arquitectónico. 
A ZEP do Recolhimento das Convertidas foi definida tendo em vista a proteção do monumento que, segundo a DRCN, "se insere numa área da cidade de Braga perfeitamente consolidada e faz parte integrante de uma frente contínua que limita a avenida Central de Braga, onde existem outros edifícios de valor arquitectónico, com importância e valor variável, mas que constituem um enquadramento que contribui para a valorização do imóvel". Daí que a DRCN tenha incluído a frente urbana da Avenida Central na ZEP do monumento.
Esperava-se, por isso mesmo, que a DRCN actuasse de modo a proteger a área abrangida pela ZEP do monumento. O que, para surpresa nossa, não aconteceu, uma vez que deu parecer favorável à construção de um hotel de grande volumetria, com cinco pisos, contíguo ao Recolhimento das Convertidas. 
O edifício desperta, a quem o visita, sensações fortes, na medida em que os espaços pequenos das celas, os corredores estreitos, o pátio em U e logradouro, convidam a imaginar o quotidiano das mulheres que lá habitavam.
O texto de Isabel Cristina Mateus  convida-nos a recuar no tempo...


segunda-feira, 6 de julho de 2020

ENTRE ASPAS "Redes de Bibliotecas e património documental: que memória para as bibliotecas escolares?"

Lugares de memória por excelência, é papel das bibliotecas escolares reivindicarem a preservação e divulgação do património bibliográfico e documental das instituições de ensino e da comunidade que servem, em colaboração com as bibliotecas públicas, que agregam e alargam o potencial de cada uma. Eis um desafio de inovação a partir desse lugar de afecto e abrigo da memória que a ASPA não quer deixar de propor às bibliotecas escolares e às suas redes.


A título de exemplo apresentamos dois postais preservados para o futuro: um, do Liceu Sá de Miranda, em Braga, que nos remete ao passado (Biblioteca Pereira Caldas, Escola Secundária Sá de Miranda); outro, mais recente (2002), da Escola EB2/3 Frei Caetano 
Brandão (AE de Maximinos, em Braga) resultado de um projeto interdisciplinar ,centrado na floresta de carvalhos, que envolveu alunos de 3º ciclo na descoberta da biodiversidade vegetal e animal autóctone.   



segunda-feira, 22 de junho de 2020

ENTRE ASPAS "Os espaços verdes urbanos em contexto de alterações climáticas"



Num dia em que, por coincidência, a temperatura foi superior a 30ºC, em Braga,  o texto publicado na coluna Entre Aspas, de Miguel de Maria Brito (Arqº Paisagista)  e Isabel de Maria Brandão (Engª Agrónoma), é um alerta para a importância de as cidades se prepararem para fenómenos climáticos extremos.





Importa perceber as razões pelas quais existem Estratégias Municipais Municipais  de Adaptação às Alterações Climáticas e por que motivo é urgente passar à prática, adotando  medidas articuladas em cada território concelhio:
"Em consequência das atuais manifestações de alterações climáticas, os principais fatores de risco nas zonas urbanas são, entre outros, o calor excessivo e a modificação dos padrões de precipitação. Ao aumento da temperatura global, acresce o aumento da temperatura em consequência da urbanização (efeito de ilha de calor urbano). Este calor será tanto menor quanto maior for a área de espaços verdes e menor a densidade de construção, uma vez que é causado, principalmente, pela cobertura do solo com materiais impermeáveis e absorventes de calor, como a pedra, o cimento e o asfalto. A previsão de diminuição da precipitação total, comum aos países do sul da Europa, representa uma preocupação a nível da garantia do abastecimento de água de boa qualidade e pode ter consequências na saúde das pessoas, na preservação dos ecossistemas e biodiversidade e, naturalmente, na economia."


Miguel Maria Brito e Isabel Mourão, são autores do Manual de Boas Práticas-Desenho e Gestão de Espaços Verdes em cenário de Alterações Climáticas, Editado pela Empresa Municipal de Ambiente de Cascais e disponível on-line. Neste manual é apresentada a evolução do clima em Portugal, causas e efeitos da emissão de gases de efeito de estufa, causas e consequências das alterações climáticas e seu impacte nas cidades (calor excessivo, modificações do regime de vento, dos padrões de precipitação, etc.), contributo dos espaços verdes urbanos para a adaptação às alterações climáticas (serviços do ecossistema e seus indicadores), diversidade de espaços verdes na cidade (jardins, ruas verdes, paredes verdes, coberturas verdes, corredor verde ribeirinho, hortas, parques de estacionamento material permeável, espaços de enquadramento, etc.) e recomendações para a sustentabilidade dos espaços verdes face às alterações climáticas. 

Planeamento, desenho, implementação e gestão de espaços verdes urbanos, são assumidos como parte da Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC).



Consultar:


domingo, 14 de junho de 2020

ENTRE ASPAS "Memória para todos: o papel das bibliotecas"

Manuela Barreto Nunes, bibliotecária, alerta para a crise em que se encontram as bibliotecas públicas devido ao abandono por parte do Ministério da Cultura, o que "motivou uma recente carta aberta à Ministra da Cultura, promovida por um conjunto de bibliotecários e subscrita por mais de um milhar de cidadãos, entre os quais artistas, escritores e investigadores, chamava a atenção, entre outros aspectos, para a importância das bibliotecas na recolha e valorização do património cultural imaterial e da memória local, enquanto “elementos estruturantes da identidade das comunidades” e, nesse contexto, da constituição e valorização dos Fundos Locais, colecções de documentos que preservam e promovem a memória e a identidade das comunidades, contribuindo para a coesão social e o desenvolvimento local e regional."
Relembra que "...a Rede de Bibliotecas de Leitura Pública do Cávado, constituída no âmbito da respectiva Comunidade Intermunicipal, obteve um pequeno financiamento no âmbito do programa PADES, acima referido, para a criação de uma Biblioteca Digital do Cávado. Com o nome de AquaLibri, esta biblioteca digital, que ainda este ano abrirá as suas portas virtuais, disponibilizará em acesso aberto e gratuito as colecções de imprensa local, livro antigo, monografias locais de há muito esgotadas, documentos efémeros, fotografias e recursos sonoros e audiovisuais que testemunham a vida das comunidades. Desenvolvida seguindo o espírito da participação cidadã, estimulará a colaboração das populações através do depósito de documentos das suas próprias bibliotecas e espólios particulares, ou dos testemunhos que vão recolhendo na actividade do dia-a-dia, contribuindo assim para a preservação e a divulgação da memória colectiva. 
Talvez aqui, através da cooperação intermunicipal, se anteveja um novo futuro para as bibliotecas públicas e para os seus fundos locais e patrimoniais."

terça-feira, 26 de maio de 2020

ENTRE ASPAS: "PATRIMÓNIO CULTURAL: TEMA & VARIAÇÕES"

Ademar Ferreira dos Santos (1952-2010) deixou-nos abruptamente fez 10 anos no passado dia 22. Foi um dos grandes protagonistas da vida da ASPA e continua a fazer-nos muita falta. Entendemos recordá-lo na coluna Entre Aspas, no Diário do Minho, para a qual o Ademar escreveu largas dezenas de textos, tornando de novo público um dos seus escritos um tanto esquecido, mas que mantém uma actualidade plena. Trata-se do prefácio ao volume das “Conclusões” do 2º Encontro das Associações de Defesa do Património Cultural e Natural, realizado em Braga em Abril de 1981, do qual ele foi o secretário-geral e um dos grandes animadores.

"PATRIMÓNIO CULTURAL: TEMA & VARIAÇÕES"
Pretexto de ocupação dos tempos livres? Passatempo para a terceira-idade? Capricho estético-cultural de novas seitas de iluminados? Culto da miséria e da pobreza? Fobia do progresso? Tentação pela aurea mediocritas? Saudosismo? Revivalismo? Reaccionarismo? Terapia de grupo? 
Num juízo apressado, tais qualificativos podem servir (e têm, efectivamente, servido) para caracterizar, subvalorizando, todos os programas e projectos de salvaguarda, recuperação e revitalização do nosso património cultural. Mas num país predisposto a rejeitar, por sistema, tudo aquilo que é novo e em que a inércia colectiva só consente tréguas ao discurso fácil do deve & haver e à dinâmica subterrânea dos pequenos negócios e das grandes negociatas — aquelas críticas não surpreendem. A História em bruto não tem qualquer valor de mercado e cultura, sim, mas devagar! País pobre não pode viver, eternamente, a saracotear-se ao espelho e da grande História o povo só apreende... a necessidade da multiplicação dos pães. Dizem... Só que... Só que ninguém vive em permanente conflito com a sua memória, com os seus olhos, com o seu passado. Porque tudo o que é presente e futuro traz dentro de si, a marcá-lo, urna história. E sem raízes bem sólidas e bem fundas, não há árvore de porte altivo ou discreto que se segure de pé. Além do mais, porque é pelas raízes que ela se alimenta e ganha força para se afirmar. 
Os povos são como as árvores. Se cortam com as suas raízes, mais tarde ou mais cedo, estiolam, tornam-se dependentes do acaso, paralisam. Defender o património cultural dum povo — é, precisamente, como que proteger as raízes de uma árvore, é garantir, mais do que o seu presente, o seu futuro, o seu alimento. O progresso tem rosto. Tem um cartão de identidade. Tem um corpo e uma alma. E se queremos continuar a dizermo-nos portugueses e povo independente — essas componentes do progresso terão de ser... genuinamente portugueses. Isto é, o progresso terá de ir beber às origens (às raízes da nossa cultura e da nossa história) — a sua matriz própria, as suas impressões digitais, a sua assinatura, o seu retrato. Poderemos ser pobres, a carência de meios e a falta de recursos poderão ser dramáticas, a dívida externa poderá piscar o olho à bancarrota. Mas há uma riqueza muito elementar que temos e devemos preservar a todo o custo e rentabilizar — a de sermos portugueses e portadores ou herdeiros de uma cultura antiga e sui generis. Uma cultura que não é susceptível de avaliação em dólares ou marcos, que não é alienável. Porque não queremos viver, como povo, «sem tecto, entre ruínas», mobilizámo-nos para reconstruir, recuperar e dar uma nova vida ao nosso património. Para salvar o nosso passado. A nossa História. A nossa cultura. O nosso bilhete de identidade — passaporte para o futuro. 
Nas escolas, a juventude vai descobrindo, talvez, como se ligam as árvores à terra. Como se alimentam e se firmam de pé. Mas alguém ensinará essa juventude como se liga o presente colectivo ao nosso passado, à nossa história? Alguém lhe ensinará como do conhecimento e da recuperação das nossas raízes culturais depende o futuro? Estarão os programas e os currículos sintonizados com essa urgência nacional de preservação e valorização da nossa herança cultural? Estarão os professores atentos e sensibilizados para a necessidade imperiosa de defesa e divulgação do nosso património? Para a necessidade de recuperação e reabilitação dos centros históricos das nossas cidades e vilas? Para a necessidade de afirmação de uma outra e bem diferente «qualidade de vida»? Para a necessidade de protecção, divulgação e estímulo da nossa riquíssima cultura popular? 
Um mundo de questões e de dúvidas — e a certeza de que há uma verdadeira revolução no ensino por fazer. 
Com efeito, é nas escolas que se joga e se decide o nosso futuro (a nossa independência) como povo. É nas escolas que se traça o destino da nossa cultura, do nosso património. 
Bem pouco valerão os esforços do governo, do parlamento, das autarquias, das associações — se as escolas e os programas de ensino estiverem de costas voltadas para o homem, para o meio, para a cultura e a crítica, para a vida. 
Não basta descentralizar o executivo, regionalizar e desburocratizar o poder — é imperioso e urgente, antes de mais, nacionalizar e humanizar o nosso ensino. Pô-lo ao serviço da nossa história, do nosso presente e do nosso futuro. Ao serviço dos efectivos interesses do nosso povo, da nossa cultura. 
Progresso, sim, e depressa (naturalmente) — mas vestido das cores de Portugal e à medida do nosso corpo. Equilibrado. Harmónico. Saudável. 
E por mais voltas que dermos, a uma conclusão muito singela acabaremos sempre por chegar — é nos bancos das escolas que melhor se defende e assegura o futuro do nosso património cultural e natural. 
Depois da escola, a associação. A teoria e a prática que se interpenetram 
A associação não se substitui ao Estado, nem pretende confiscar-lhe as competências e as responsabilidades. A ela, cabe um papel supletivo, complementar — quer em relação aos poderes públicos, quer em relação às escolas. 
Em relação aos poderes públicos, porque lhes cabe a vigilância, o rastreio, a denúncia das situações de crise; porque lhe compete o controle permanente da intervenção do Estado ou da sua inércia; porque pressiona os organismos oficiais, faz propostas, sugere soluções, apoia ou critica a resolução dos problemas concretos. 
Em relação às escolas, porque lhes fornece a experiência imprescindível duma prática local de prevenção e sensibilização; porque constitui um espaço privilegiado de intervenção e animação culturais e de reflexão colectiva; porque prolonga a aprendizagem escolar e sintoniza-a com as exigências concretas do meio; porque organiza os esforços de todos aqueles que não aceitam defender o património apenas por palavras e querem, coerentemente, passar à acção. Concebida deste modo, a associação de defesa do património desempenha um papel e cumpre uma função de primordial importância e merece, por isso, todo o apoio quer da parte do Estado, quer da parte das populações. 
Se a expressão «património cultural» tem hoje algum sentido útil e faz já parte da linguagem corrente da grande maioria dos portugueses — tal deve-se, sem sombra de dúvida, à acção eminentemente pedagógica que tem sido desenvolvida, desde 1976 e por todo o país, pelas Associações de Defesa do Património. Em cinco anos, as ADPs alargaram extraordinariamente o seu campo de intervenção e o seu espaço de influência, contribuíram para o salvamento e a recuperação de um sem-número de bens e valores patrimoniais, apoiaram o governo e as autarquias com centenas de propostas e sugestões, sensibilizaram milhares e milhares de portugueses para a necessidade de preservação da nossa herança cultural. Não será, por isso, decerto muito fácil encontrar em Portugal corrente associativa que tenha desenvolvido em tão curto espaço de tempo uma actividade tão fecunda e uma acção tão mobilizadora. Infelizmente, nem sempre os poderes públicos têm dado ouvidos às propostas e sugestões das ADPs e muito do trabalho das associações tem-se perdido por incúria, desleixo, ignorância ou má vontade dos organismos oficiais. Oxalá que com as presentes Conclusões não suceda o mesmo. 


Ademar Ferreira dos Santos
Braga. Outubro de 1981.
Visita da ASPA ao Mosteiro de Rendufe
Salão Egípcio. Ação no âmbito do pedido de classificação

Mais informação sobre o "Mosteiro de Tibães":