Há processos ambientais adversos e silenciosos, que só muito tardiamente demonstram a sua força. São difíceis de controlar e implicam custos elevados. A vespa asiática, o lagostim-vermelho-do-Louisiana, a ameijoa vietnamita e outros animais com comportamento invasor aproximaram-se e rapidamente se expandiram no nosso território, trazendo impactes a nível ambiental e socioeconómico; exigem um combate firme, dispendioso (alerta, monitorização, gestão, controlo, etc.), impondo a articulação entre o interesse público e o privado.
As plantas invasoras têm um comportamento semelhante, mas ainda não foram assumidas como um problema com impactes idênticos e que justifica união de esforços - público e privado -, de forma persistente, para assegurar a sua gestão e evitar a propagação. Não há dúvidas que as espécies invasoras estão em expansão e que essa expansão acarreta riscos. Por isso mesmo, em 2019, foi publicado o Decreto-Lei nº92, que inclui a Lista Nacional de Espécies Invasoras: algas, plantas, moluscos, insetos, crustáceos, outros invertebrados, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
A SEI 2022 (Semana das Espécies Invasoras), que decorreu de 21 a 29 de Maio, conseguiu unir organizações e cidadãos no combate às espécies invasoras. Demonstrou que, quando há conhecimento, responsabilidade ambiental e força de vontade, é possível atuar em defesa do ambiente e da biodiversidade.
Mas o combate às plantas invasoras não pode limitar-se a uma semana por ano...
bons-dias (sobrepondo-se a um sabugueiro)
erva-das-pampas (no rio Este)
Perante os problemas que causam, a rapidez com que se reproduzem e o modo como se sobrepõem às espécies nativas, colocando em risco a produção agrícola e florestal, a biodiversidade e a paisagem e, até mesmo, o interesse turístico de uma região, o número de iniciativas promovidas pelas cerca de 200 entidades envolvidas na SEI 2022 representam ainda um pequeno passo no longo caminho que temos ainda, como sociedade, de percorrer para enfrentar esta problemática. Este inimigo silencioso expande-se e, como tal, é urgente a erradicação das espécies invasoras em cada quintal, jardim, campo, bouça, muro, rio, ribeiras, charca, beira de estrada, freguesia, cidade, concelho.Quem faz caminhadas e tem preocupações ambientais, percebe que, nos espaços abandonados e zonas ribeirinhas, algumas plantas exibem as suas belas flores e crescem excessivamente, sobrepondo-se a arbustos e árvores que rapidamente cobrem enquanto vão descaracterizando os espaços. Em meio rural e florestal, as plantas invasoras são já um problema para quem possui quintais, propriedades agrícolas ou florestais. Chegam, no geral, sem ninguém as plantar, através de sementes levadas pelo vento, água, aves ou calçado, vindas de terrenos contíguos ou mesmo distantes. Exigem controlo persistente ao longo do ano, de acordo com técnicas especificas.
A CIM Cávado lançou o projeto "Controlo e contenção da proliferação das espécies exóticas invasoras na NUT III Cávado-Conhecer e planear para agir", em parceria com os municípios associados. O projeto, já aprovado pelo Fundo Ambiental, em em vista o combate às plantas invasoras aquáticas pinheirinha-de-água (Myriophyllum aquaticum) e jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), e às espécie ripícola sanguinária-do-Japão (Fallopia japonica), as três incluídas na Lista Nacional de Espécies Invasoras. É urgente combater estas espécies, pois cobrem troços do rio Cávado e impossibilitam a existência de vida aquática.
O Município de Braga aderiu à luta contra a erva-das-pampas (Cortaderia selloana), no âmbito do projeto intermacional LIFE+STOP CORTADERIA, tendo como objetivo o controlo desta planta no monte Picoto. Sabendo que as sementes das plumas da erva-das-pampas se propagam com facilidade e rapidamente, espera-se que o município, em articulação com as freguesias, se assuma como exemplo, procedendo à sinalização desta planta invasora, através de projetos comuns, com colaboração da população local, de modo a controlar a sua propagação nas beiras de caminhos, de estradas, campos, etc.
Importa que quem tem responsabilidades a nível autárquico conheça a realidade do município e assuma o problema, pois está em causa a gestão deste território. É essencial sinalizar as plantas invasoras existentes no Concelho de Braga e, posteriormente, definir um plano de ação para a sua gestão e controlo.
Sendo um problema que exige uma intervenção de cariz educativo, parece-nos essencial que as Escolas, no âmbito das suas atribuições de educação cidadã, se assumam como parte ativa na sinalização e combate a plantas invasoras. Essa dinâmica, em articulação com as Uniões de Freguesia/Juntas de Freguesia e associações de cariz ambiental, permitiria a participação dos estudantes em processos da comunidade, facilitando vivências cidadãs previstas no atual paradigma educativo.
Assim, consideramos essencial a divulgação das plantas invasoras à população, em cada escola e freguesia, no âmbito de ações de controlo de invasoras. Campanhas que integrem equipas alargadas - alunos das Escolas e encarregados de educação, instituições e organizações locais – a realizar em terrenos públicos e privados, para controlar plantas que não reconhecem muros nem barreiras, limites de freguesia ou de concelho.
Colocamos mais uma questão: as unidades hoteleiras, que beneficiam com um ambiente e paisagem genuínos, sem intrusos, neste caso de invasoras que se sobrepõem à flora nativa e colocam em risco a paisagem e a biodiversidade local... que papel devem ter neste combate?
As espécies invasoras são uma das principais ameaças à biodiversidade a nível global. Assim, tal como o combate à COVID 19 e à vespa velutina, o combate às plantas invasoras exige uma ação conjunta, neste caso do município, juntas de freguesia, proprietários agrícolas ou florestais, ONGs, escolas, voluntários, etc.
É essencial que seja uma aposta comum. De TODOS!