O modelo urbano fundacional de Bracara Augusta foi deduzido a partir do estudo da Domus das Carvalheiras, integralmente escavada e estudada (1). As posteriores intervenções na cidade têm sempre confirmado a hipótese formulada, embora com algumas discrepâncias.
2) Diversos autores sugerem que teria existido na colina um castro. Todavia nunca até esta data foram encontradas evidências de um povoado proto-histórico fortificado. Eventuais vestígios, mesmo os mais singelos, não teriam passado despercebidos nos rigorosos trabalhos arqueológicos que se efectuaram ao longo de décadas. Note-se que se registaram no Alto da Cividade e noutros pontos da colina indicadores de um povoado da Idade do Bronze Final, incluindo cerâmicas.
3) Hipótese formulada pela primeira vez por Alain Tranoy, em “La Galice Romaine” e desenvolvida por FSL, designadamente em artigo “Antes de Bracara Augusta” publicado na revista Forum, em 2008.
4) O nome Bracaraugustani ficou gravado no altar de Semelhe dedicado a Paulo Fábio Máximo e generaliza-se no Alto Império, incluindo no Exército, registando-se corpos de tropas auxiliares designadas como Bracaraugustanorum e que estiveram em pontos tão distantes como a Britania, a Dacia, a Siria ou a Judeia.
5) A largura das ruas era variável. As mais importantes teriam mesmo dois pórticos, enquanto outras, apenas num nos lados.
6) Sobre esta questão específica pode consultar-se um excelente artigo de 2017, intitulado “Topografia e urbanismo fundacional deBracara Augusta”, da autoria de Manuela Martins, Maria do Carmo Ribeiro, Jorge Ribeiro e Ricardo Mar, acessível no Repositorium da UM.
7) Os trabalhos arqueológicos dirigidos por FSL e José Manuel de Freitas Leite, no logradouro da Casa Grande de Santo António das Travessas, foram decisivos para o avanço dos conhecimentos sobre Bracara Augusta, não só porque foi descoberto o cardus maximus da urbe e a cloaca subjacente, como também pela confirmação do módulo detectado na domus das Carvalheiras, bem marcado por grandes blocos graníticos. A fim de se sublinhar a importância desses marcos como referências urbanísticas a UAUM insistiu na sua conservação, o que obrigou a alterar o projecto da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Ver o artigo publicado na revista Forum por aqueles dois arqueólogos.
8) Dissertação de Doutoramento de Fernanda Magalhães, intitulada "A domus romana no NO peninsular. Arquitetura, construção e sociabilidaddes". Orientada por Manuela Martins e Ricardo Mar. Apresentada em 2019.
9) Talvez o projecto de uma História da cidade de Braga esteja a ser já desenhado. Muitas vezes o saudoso Presidente do Conselho Cultural insistiu no projecto que nunca se concretizou. Porventura talvez o recém empossado Conselho Cultural possa assumir essa ideia, respeitando a Memória do Prof. Lúcio Craveiro da Silva.
10) Em redor do antigo Forum (actual largo Paulo Orósio) são várias as ruas que “fossilizaram” eixos viários fundacionais. Como a de São Sebastião. Ou a Conselheiro Jerónimo Pimentel; a obliterada Rua Verde; a Gualdim Pais; e outras.
11) A Via per Loca Maritima, citada no Itinerário de Antonino dirigia-se para a litoral, para a zona de S. Pedro de Rates e aqui inflectia para norte, atravessando as bacias do Cávado, Neiva, Lima e Âncora, após o que se juntava à Via XIX, em Valença. Em alguns mapas publicados em artigos da UAUM a porta oeste de Bracara é relacionada com a Via XVI (a Cale, actualmente o Porto). A saída para Cale fazia-se pela porta sul de Bracara conforme documentam os miliários. Não se deve excluir, porém, uma ligação transversal entre a Via per Loca Maritima e a Via XVI, pouco depois da porta Oeste.
12)A Via XVII do Itinerário de Antonino ligava Bracara a Asturica por Aquae Flaviae (Chaves) e Roboretum (Castro de Avelãs/Bragança).
13) O primeiro foi identificado nos trabalhos arqueológicos do logradouro da Casa Grande, no extremo norte do terreno. Prolongava-se por debaixo do restaurante Bouro, sob os alicerces do edifício onde está a sede da Ordem dos Engenheiros, prosseguindo em direcção ao limite oriental da urbe. A igreja da paróquia de Santiago ocupou um tramo do mesmo decumanus, o que explica a sua orientação oblíqua e pouca canónica. Cruzava também o interior da cerca do Seminário de Santiago, onde nas sondagens aí efectuadas (de que existe Relatório assaz completo) foi registado. Atingia o limite da urbe no ponto onde se ergue a Igreja de Santa Cruz, ou pouco mais acima. Foi obliterado na Idade Média e só a projecção da malha fundacional e as sondagens arqueológicas permitiram reconstituir o seu traçado. Pelo contrário os dois decumani seguintes perduram, ainda que com desvios ligeiros em relação ao eixo original: a actual Afonso Henriques, antiga Rua Travessa; e mais a norte, a Rua dos Burgueses, actual Rua Paio Mendes
14) São os constrangimentos da Arqueologia Urbana.
A excepção é o Domus das Carvalheiras que conservou todo o seu perímetro, o
Teatro e os banhos anexos.
15) Recomendamos o seguinte artigo: "Em torno da Rua Verde: a evolução urbana de Braga na lnga duração". Publicado em 2013.
16) Esta imponente cloaca foi descoberta nos anos 90. Tivemos oportunidade de descer à cloaca num dos dias de maior chuva em Braga e verificámos que a água pluvial era perfeitamente escoada. No âmbito do projecto de construção da Bibliopolis, actual Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, foi decidido a sua preservação, embora tenha diminuído em ¼ o espaço de reserva de livros. O Vice-Reitor, Aguiar e Silva insistiu muito, em nome da leitura pública, no desmonte da parte terminal da cloaca, em cerca de 8 metros, a fim de se abrir uma porta para uma garagem para uma furgonete adaptada à distribuição domiciliária. Tendo em conta o argumento tal foi aceite, a contra-gosto. Um sector da cloaca foi assim desmontado e transferido para os terrenos do Alto da Cividade. O objectivo era a sua reconstituição nos jardins do Museu de D. Diogo de Sousa. Desconheço actualmente onde estão as pedras, mas sei que a Directora do MDDS nunca acolheu bem a ideia, que me pareceu sempre assaz pedagógica. Também nada sei acerca do estado de conservação da cloaca maior de Bracara.
17) O desmonte deste alto e espesso muro de
suporte, confinante com a Rua Frei Caetano Brandão e inteiramente levantado com
pedra romana, foi directamente acompanhado por mim. Demorou uma semana, pois
houve o cuidado de separar capitéis, fustes, bases de coluna e blocos maiores,
material que foi transferido para a zona demarcada do Alto da Cividade e
colocado numa zona específica. Esta demora contrariou muito o dono da obra, a
UM, e o empreiteiro, o qual forneceu a camioneta para o transporte dos
materiais. Desconheço qual o estado actual deste conjunto, mas aparentemente
foi muito útil no trabalho de Fernanda Magalhães, pelo que pude verificar. A
abundante pedra miúda romana não foi guardada.
18) A reconstituição só foi possível graças á
amplitude dos trabalhos arqueológicos, rigor do mesmo e um registo detalhado
quer em desenhos quer em imagens. As escavações foram dirigidas ao longo de
vários anos por FSL e José Manuel Freitas Leite. Sob o piso térreo da Casa
Grande ainda se conserva, por estudar, quer o sector leste da domus quer
a sua fachada leste.
19) Para os mais interessados na arquitectura
residencial de Bracara Augusta aconselhamos a leitura da referida
dissertação de Fernanda Magalhães, que dedica a esta domus numerosas páginas
ilustradas com plantas e imagens.
20) Na época romana eram designadas como tabernae
os espaços comerciais que se dispunham ao longo dos quarteirões. Podiam ter
diversas funcionalidades, incluindo a de taberna no sentido português do termo.
21) Ver o seguinte título: "Intervenções arqueológicas realizadas nos edifícios nº 183/185 da rua Frei Caetano Brandão em 1998-2001: relatório". Da autoria de José Manuel Freitas Leite, Francisco Sande Lemos e Armandino Cunha. Ver trabalho já citado de Fernanda Magalhães.
22) Esta grande conjunto público de banhos são habitualmente referidas como Termas da Rua Afonso Henriques. Ver o trabalho de Alberto Ribeiro de Souza, orientado por Manuela Martins, intitulado: "As termas públicas e privadas de Bracara Augusta: os casos de estudo da R. D. Afonso Henriques e da R. Gualdim Pais".
23) Conhecem-se, pois, em Bracara, pelo menos três edifícios públicos de banhos. O do Alto da Cividade, junto ao Teatro, o supracitado e ainda um outro, nos terrenos do Museu de D. Diogo de Sousa, e que um dia hão de ser estudados. A distribuição é lógica. As do Alto da Cividade serviam o quadrante sudoeste da urbe; a do MDDS o quadrante sudeste; a da Rua Afonso Henriques o quadrante nordeste. Talvez no Campo das Carvalheiras se encontrem, no futuro, os banhos públicos relacionados com o quadrante noroeste. Ou talvez já tenha sido identificados. Manuela Martins inicialmente sustentava que os banhos que provocaram uma profunda alteração da Domus das Carvalheiras teriam sido um modo do proprietário aumentar os rendimentos. Ultimamente entende que seriam banhos públicos, considerando a monumentalidade da entrada. De qualquer modo eram termas de dimensão reduzida, pelo que não se deve excluir a existência de outro conjunto termal, no quadrante noroeste da urbe, no Largo das Carvalheiras. Em síntese deve-se assinalar a relevância social dos banhos, no Alto Império, em Bracara Augusta. Acerca das Termas Públicas de Bracara estão acessíveis vários textos. Recomendamos: "As termas públicas de Bracara Augusta e o abastecimento de água na cidade romana", de Manuela Martins, Maria do Carmo Ribeiro e José Meireles.
24) Este conjunto, talvez igualmente bem
preservado, estendia-se para norte até á actual Rua Afonso Henriques, sendo de
admitir que existam muros antigos sob as restantes casas, pelo que não devem
ser autorizadas caves em eventuais obras de restauro ou renovação, ou
demolições em acompanhamento arqueológico. Ou já terá havido intervenções?
25) Ver: "Salvamento de Bracara Augusta, edifício nº20-28 da Rua Afonso Henriques e nº 1-3 da Rua de Santo António das Travessas". Relatório de 2012, da autoria de José Manuel Freitas Leite, Luís Fontes, Manuela Martins, Joana Tomé e David Mendes.
26) O texto mais completo sobre a muralha tardia de Bracara Augusta foi apresentado num colóquio internacional em Lugo, dedicado ao tema. As actas foram divulgadas numa edição monumental: “Murallas de ciudades romanas en el Occidente del Imperio: Lucus Augusti como paradigma: actas del Congreso Internacional celebrado en Lugo (26-29.11.2005) en el 5. aniversario de la declaracion por la UNESCO, de la Muralla de Lugo como Patrimonio de la Humanidad. Tanto quanto sei não estão acessíveis “on line”. Nem o artigo assinado por Francisco Sande Lemos, José Leite e Armandino Cunha sobre a muralha de Bracara, está disponível na net, apesar de ser um texto muito citado em Portugal e Espanha, pelo menos.