Na verdade, passaram já três séculos desde que, em 25 de abril de 1722, foi inaugurado o Recolhimento das Convertidas e 13 anos desde a sua classificação como Monumento de Interesse Público (Portaria nº 665/2012). Um tempo longo que culmina na agonia lenta deste memorial do barroco conventual, um elemento patrimonial valioso pelo que representa e pela sua singularidade, que apesar de ter resistido à ruína plena, em breve sucumbirá se nada for feito. A janela aberta e os vidros partidos evidenciam o abandono a que o monumento está sujeito.
Nascido num 25 de abril, dia que é hoje de comemoração da Liberdade, este edifício representa bem o mote escolhido este ano para a celebração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, comemorado a 18 de abril: Património Resiliente Face a Catástrofes e Conflitos.
Foi perante este cenário e esta ameaça de perda que várias entidades e personalidades ligadas à cultura, ao património e à intervenção cidadã (ASPA, CIVITAS Braga, UMAR, APAV, Tin.Bra e SUONART), se uniram no propósito de pôr fim à degradação galopante do edifício do Recolhimento das Convertidas, em Braga, sugerindo às entidades públicas com capacidade de intervir – CIM Cávado e Câmara Municipal de Braga, Património Cultural IP e CCDR N – a sua recuperação e reafetação a novas funcionalidades, como CASA DA MEMÓRIA DA MULHER.
Garantindo que não se perde a memória do que foi este espaço do barroco conventual, salvaguardando o património edificado sem deixar de lhe associar o património imaterial decorrente da memória de quem habitou aquelas paredes.
O Recolhimento das Convertidas manteve, desde 1722, a autenticidade dos espaços do quotidiano das mulheres que lá davam entrada e, a partir daí, deixavam de ter contacto com o exterior. Limitando-se às celas, à Capela, aos pátios e à Cerca conventual. Capela onde marcavam presença sem serem vistas.
Neste sentido, assegurada a recuperação do edifício, propomos três eixos fundamentais de estruturação do projeto:
- Criação de um Espaço de Memória do Recolhimento das Convertidas
- Aproximação à comunidade académica, através da promoção de investigação, estudo e divulgação da condição feminina, em Braga, em Portugal, na Europa e no Mundo.
- Abertura à comunidade: espaços e iniciativas.
A criação da CASA DA MEMÓRIA DA MULHER pressupõe uma reabilitação que respeite a autenticidade deste memorial do barroco conventual e garanta a preservação do espírito do lugar. Esse contexto muito especial permitirá diferentes valências e uma panóplia alargada e regular de atividades que contribuirão, com certeza, para o enriquecimento da oferta cultural e educativa na cidade, apelando a um amplo envolvimento da comunidade.
Tendo a ASPA avançado com esta proposta, foi com enorme satisfação que viu associar-se à mesma a CIVITAS Braga, a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), a APAV (Associação de Apoio à Vítima), o Tin.Bra (Academia de Teatro de Braga) e a Associação Cultural SUONART, bem como elementos representativos da comunidade.
Estamos certos de que, a breve prazo, outras entidades e personalidades se juntarão na subscrição desta proposta que, neste momento, já reúne o apoio de elevado número de subscritores de diversas áreas - movimento associativo e cultural, comunidade académica, etc.–, bem como de diversas organizações e sensibilidades políticas.
Nesse sentido, as entidades e personalidades subscritores entregaram à CIM Cávado, ao Património Cultural I.P. e à CCDR N, um texto com imagens, onde apresentam as razões e o sentido da sua proposta de criação no Recolhimento das Convertidas da CASA DA MEMÓRIA DA MULHER.
Esperamos que, em breve:
- seja realizada uma avaliação rigorosa da situação em que se encontra o Recolhimento das Convertidas e a Capela de São Gonçalo, por parte do Património Cultural I.P., de modo a que sejam definidas soluções para a sua conservação e restauro, com respeito pela autenticidade deste memorial do barroco conventual, garantindo a preservação do espírito do lugar;
- se conclua o acordo de permuta, entre a CIM Cávado e o Estado Português, em curso desde 2017, de modo a que o Recolhimento das Convertidas passe para a propriedade da CIM;
- o Património Cultural I.P. e a CCDR N identifiquem e agilizem fontes de financiamento, de modo a garantir conservação e restauro que permita salvar o monumento e dar-lhe um uso público, como CASA DA MEMÓRIA DA MULHER, garantindo a sua entrega às gerações vindouras, como polo Cultural e Educativo ao serviço da comunidade.
A terceira imagem, de 2019, bem como as imagens do interior da Capel barroca, captadas em 2022 (segunda e sexta), permitem imaginar como estará, em 2025, a pintura de teto da capela e, também, os pisos e coberturas do monumento.
A quarta imagem mostra uma janela aberta e a quinta imagem não deixa dúvidas que há vidros partidos na janela de guilhotina por cima da capela. Em abril de 2025. Até quando?
Uma observação atenta do exterior do monumento permite perceber que está votado ao abandono: uma janela aberta, vidros partidos e uma das frentes de rua que surpreende quem observa, atentamente, o Recolhimento das Convertidas.
A frente urbana da Avenida central, que supostamente estava protegida pela ZEP do Monumento (Portaria nº 665/2012, de 7 de novembro), foi alterada conforme se observa na imagem.
Contudo, a Portaria especifica que "A zona especial de proteção tem em consideração a sua implantação numa área da cidade perfeitamente consolidada, onde outros edifícios com interesse arquitetónico contribuem para a valorização do imóvel e a sua fixação visa salvaguardar alguns dos imóveis da frente urbana da Avenida Central, bem como toda a Rua de São Gonçalo que, por ser bastante estreita, estabelece uma relação direta com o imóvel.”
INFORMAÇÃO DISPONÍVEL SOBRE O MONUMENTO:
RECOLHIMENTO DE SANTA MARIA MADALENA E SÃO GONÇALO/RECOLHIMENTO DAS CONVERTIDAS (informação detalhada: SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico)
- O cover das Convertidas (maio 2013)
- Recolhimento das Convertidas, edifício do Castelo e S. Geraldo: três casos insólitos em Braga (mar2016)
- Investimentos hoteleiros e defesa do património (out 2016)
- O Recolhimento das Convertidas estará em risco? A imagem urbana da Avenida Central estará ameaçada (abr 2019)
- Recolhimento das Convertidas. Braga. Que futuro para a capital do barroco? (jul2019)
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- Um mau vizinho para o Recolhimento das Convertidas (ago2021)
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- O mandato político do património (jan2022)
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- Recolhimento das Convertidas: algumas perguntas à espera de resposta (jan2023)
- RECOLHIMENTO DAS CONVERTIDAS. Um imperativo de consciência pela defesa do património cultural (jul2024)
- O impacto na frente de rua já é visível. O Recolhimento das Convertidas terá sido respeitado? (maio 2024)
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