Como é possível que uma casa que integra um edificado duplamente protegido - classificado como património de interesse municipal e abrangido por uma zona especial de proteção - seja alvo de RECONSTRUÇÃO, ALTERAÇÃO E AMPLIAÇÃO?
Estranhamos o Aviso que anuncia o Alvará de licenciamento de obra nº 196/2022, colocado na casa nº 18 da Rua Júlio de Lima, pois tem em vista a "Reconstrução, Alteração e Ampliação" de uma das casas do conjunto edificado "Moura Coutinho", classificado como património de interesse municipal, pelo Município de Braga, e incluído na zona especial de proteção provisória do Palacete Júlio de Lima, jardim e espaço envolvente. Tudo indica que, para além da multiplicação de fogos, associada à "reconstrução e alteração" de património arquitetónico de Moura Coutinho e à "ampliação" desta casa, a obra poderá não prever a proteção da frente de rua, uma vez que é indicada a construção de quatro pisos.
Foto de 2015
Também estranhamos que, em agosto de 2021, a CMB tenha atribuído interesse municipal ao conjunto edificado Moura Coutinho e, em outubro, imediatamente após as eleições autárquicas, tenha autorizado uma obra que poderá atentar contra o valor histórico desse património arquitetónico e cultural, abrindo um precedente que pode colocar em risco todo esse conjunto edificado.
Se o valor patrimonial atribuído pela Câmara (em Diário da República) e pela DRCN (no âmbito da ZEPP), não for suporte para a decisão face aos interesses de promotores imobiliários, então para que serve a classificação de âmbito concelhio e a ZEPP?
Como agravante importa acrescentar que a multiplicação de alojamentos, em cada edifício reconstruído, vem agravar a produção de resíduos, as situações de congestionamento de vida na cidade, com mais automóveis a circular e menos estacionamento disponível, mais emissão de gases poluentes, maior conflito entre moradores e usos comerciais...
Alguém tem dúvida que, na cidade antiga, não é possível "meter" a cidade moderna?
Contactámos a DRCN, que nos informou ter dado um parecer favorável condicionado à realização de escavação arqueológica.
Terá sido autorizada nova construção no logradouro e demolição do interior desta obra de Moura Coutinho, com perda da arquitetura original?
Também estranhamos este parecer, pois a DRCN incluiu o edificado Moura Coutinho na zona especial de proteção provisória do Palacete Júlio de Lima, jardim e espaço envolvente, com o objetivo de o proteger e garantir o enquadramento do Palacete Júlio de Lima.
Assim, em face do patente risco de perda de património arquitetónico da cidade de Braga e da violação da proteção que lhe está legalmente conferida, solicitámos esclarecimentos ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Braga, que aguardamos.
Concluindo:
- Em agosto de 2021, a CMB reconheceu como imóvel de interesse municipal o Conjunto Edificado composto pelo Palacete Júlio de Lima, jardins e espaço envolvente e pelo Conjunto Arquitetónico urbano atribuído ao Arquiteto Moura Coutinho.
- Em outubro de 2021, o vereador eleito nas autárquicas realizadas a 26 de setembro aprovou a obra de "Reconstrução, Alteração e Ampliação" da casa nº18, que integra o edificado da autoria de Moura Coutinho. Com 4 pisos; no Aviso não é possível concluir quantos T3 foram autorizados.
- Em abril de 2022 foi emitido o alvará.
- A obra está em curso.
Não se compreende por que razão a CMB classificou este bem cultural como de interesse municipal se, no mesmo ano, aprovou uma obra que o poderá descaracterizar e, além do mais, não cumpre um dos objetivos da ZEPP definida pela DRCN: proteger o edificado Moura Coutinho e garantir o enquadramento do Palacete.
Permitiu quatro pisos, multiplicação de fogos e, quem sabe, outras opções que não respeitam a autenticidade do património arquitetónico.
Antes, a CMB aprovou a demolição do lado nascente do edificado Moura Coutinho, para permitir a construção, nesse quarteirão, de obra de elevada volumetria e impacto urbanístico. À época tudo indicava que a CMB valorizava o lado poente do edificado Moura Coutinho da Rua Júlio de Lima. Neste momento, apesar da classificação desse edificado como imóvel de interesse municipal, que garantias nos dá a câmara para evitar a descaracterização desse conjunto?
Qual a estratégia do executivo municipal em relação ao património edificado com valor arquitetónico e histórico?
Importa ter presente que o património arquitetónico (interior e exterior/frente de rua) é uma evidencia forte da autenticidade histórica e cultural da cidade e, como tal, de grande importância em termos culturais (CEC 27) e turísticos.
Informação suplementar:
- Em 2015, a ASPA apresentou à DRCN um pedido de classificação para o Palacete Júlio de Lima, jardim e espaço envolvente e, também, para o edificado Moura Coutinho nas Ruas Gabriel Pereira de Castro, Júlio de Lima e S. Vicente. Tínhamos em vista a salvaguarda destes bens culturais face ao risco a que podiam ser sujeitos.
- A DRCN aprovou a classificação de âmbito nacional para o Palacete Júlio de Lima, mas considerou que o edificado Moura Coutinho não reunia condições para uma distinção de âmbito nacional. Sugeriu, à CMB, a classificação de âmbito municipal.
- A ASPA insistiu junto da CMB para que classificasse o Edificado Moura Coutinho como património de interesse municipal.
- Em 2021, através do Edital 925, publicado no Diário da República, 2ª série, de 16 de agosto de 2021, a CMB classificou este conjunto edificado e outros bens culturais como património de interesse municipal.
A DRCN incluiu o edificado Moura Coutinho na zona especial de proteção do Palacete Júlio de Lima, jardim e espaço envolvente, por considerar que "... o edificado Moura Coutinho tem uma relação direta com o Palacete e o seu proprietário e, considerando a importância que estes edifícios têm para o enquadramento do imóvel, propomos que os mesmos fiquem abrangidos pelo limite de uma zona especial de proteção provisória definida para o Palacete Júlio de Lima, jardins e envolvente, permitindo a sua proteção".
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