As memórias, registadas em diários ou em papéis soltos, são património das pessoas.
Se algumas famílias os entregam a organizações, outras não reconhecem o seu valor e permitem que se percam dados importantes sobre os seus antepassados que são, também, um forte contributo para a compreensão de um período da nossa História comum.
O Arquivo dos Diários pretende valorizar, divulgar e visibilizar memórias de gente comum, que sejam transversais a todas as esferas da sociedade em termos de idade, profissão, género, raça, experiência de vida, entre muitas outras condições e circunstâncias - assim contribuindo para um conhecimento mais democrático e fiel da História.
Diário do Minho - 14 Novembro 2016 |
A Associação Arquivo dos Diários (AADD) é uma
associação que nasceu no final de 2013 com o objetivo de recolher e preservar
memórias autobiográficas fixadas em suportes diarísticos.
O Arquivo dos Diários pretende valorizar,
divulgar e visibilizar memórias de gente comum, que sejam transversais a todas
as esferas da sociedade em termos de idade, profissão, género, raça,
experiência de vida, entre muitas outras condições e circunstâncias - assim
contribuindo para um conhecimento mais democrático e fiel da História.
Desde 2014 que a AADD, através de uma parceria
com a Junta de Freguesia de Arroios, tem a sua morada física na Biblioteca de
São Lázaro em Lisboa, onde recolhe, cataloga e preserva estes testemunhos
únicos - diários,
cartas ou qualquer outro suporte que permita reconhecer histórias de vida -, perpetuando-os como património cultural português também através da sua disponibilização para
consulta pública.
Não
obstante a sua sede em Lisboa, a AADD tem uma dimensão nacional e também internacional.
Em 2015 foi parceira do projeto Through
the Memories, financiado pela União Europeia, no âmbito do programa
Europe for Citizens. Desde então, AADD foi convidada a participar em
atividades relacionadas com a memória, tais como o Festival Traça, a Festa do
Cinema Italiano, o Festival Silêncio e o Open House da Trienal de Arquitectura
de Lisboa.
Já este ano, a AADD organizou para o grande
público o ciclo de cinema sobre a memória “Fitas de Memória” e as sessões
temáticas mensais na Biblioteca de São Lázaro “Terças em Conversa”.
O Concurso: cerimónia de divulgação do “diário vencedor”
A primeira grande ação de divulgação da AADD decorre
desde 2015: a 1ª edição do Concurso “Conta-nos e
conta connosco”.
Trata-se de um concurso anual que visa
implementar um acervo único de memórias autobiográficas e trazer mais
visibilidade à missão do Arquivo.
São admitidos a concurso diários - obras escritas
autobiográficas, originais, não publicadas, sem tratamento editorial e em língua portuguesa. Os diários participantes são selecionados
através de um Júri Popular que escolhe três finalistas a serem avaliados por um
Júri Técnico. A obra vencedora é publicada em formato livro, sendo que há a
possibilidade de ser criada uma coleção com a temática do Concurso.
Nessa primeira edição participaram 12 diários,
cuja fase de entrega foi entre 1.9.2015 e 1.3.2016. A avaliação pelo Júri
Popular (13 membros) teve lugar entre 2 de Março e 30 de Junho e a seleção do
vencedor pelo Júri Técnico (3 membros).
A cerimónia de divulgação do
diário vencedor do Concurso “Conta-nos e conta connosco” ocorre no
sábado, dia 12 de Novembro de 2016, pelas 18h30,
no Mercado de Culturas em Arroios, Lisboa.
A
AADD aproveita ainda esta data e espaço para inaugurar a exposição “A Memória e os Lugares -
Um percurso entre passado e presente”, que exibe desenhos
realizados no âmbito do programa Open House Plus da Trienal de Arquitetura de
Lisboa deste ano. Esta foi uma atividade concretizada pelo Arquivo dos Diários
em parceria com os Urban Sketchers de Portugal que convidava os participantes a
seguir um percurso para desenhar lugares lisboetas de hoje a partir de memórias
que descreviam esses sítios.
A descentralização
Com o
objetivo de descentralizar e alargar a dimensão do Arquivo, a direção da
Associação decidiu recentemente incluir novos membros no
Norte e também na zona das Beiras, no Alentejo, no Algarve e nas Ilhas. É aqui
que nos integramos como colaboradores da Associação, não só para uma maior
divulgação das atividades do Arquivo mas também para angariação de materiais
autobiográficos no Norte, tendo em
vista a próxima edição do Concurso anual, que em breve será anunciado.
Parafraseando
o que referimos anteriormente (“Entre Aspas” de 25.01.16): “Participar no
concurso é uma forma de começar. Salvar a nossa história do esquecimento é uma
missão que a todos diz respeito”.
Autobiografias e diários
A
este propósito muito teríamos para dizer. Mas fiquemos agora por uma breve
alusão a duas obras cinematográficas que tivemos a oportunidade de apreciar
recentemente no programa Close-Up em Famalicão e que, melhor que outro exemplo,
testemunham a importância do género
patrimonial de que estamos a falar.
O
filme que Manoel de Oliveira realizou em 1982 com o título “Visita ou Memórias e Confissões”
e que esteve arquivado na Cinemateca Portuguesa até à sua morte, conforme o
determinara, é bem o exemplo de um filme autobiográfico, simples, despojado e
bastante sincero. A propósito de ter que vender a casa onde vivera 40 anos, por
motivos financeiros, Manoel de Oliveira assume aqui o papel de apresentador da
própria vida, trazendo detalhes sobre os pais, o casamento com Maria Isabel, os
filhos, os netos e, é claro, a sua carreira cinematográfica. Manoel de Oliveira
fala de si mesmo no que ele próprio assume ser um incomum testamento
cinematográfico (não obstante ter tido tempo e energia para realizar ainda mais
de 40 filmes).
Igualmente
na senda dos testemunhos pessoais, agora sob a forma de epistolografia, o filme
“O Homem Decente” (2014), de Vanessa Lapa,
dá-nos o retrato da vida e da mente de Heinrich Himmler, o líder das SS e o visionário do extermínio racial na
Alemanha nazi. A realizadora, com base na leitura dos escritos do próprio
Himmler – cartas, diários e fotografias – escondidos por mais de 40 anos
debaixo da cama do próprio, dá-nos uma visão intimista (não menos pacificadora) na abordagem de um tema que o mundo jamais irá
esquecer. Com acesso a documentação privilegiada, a realizadora traz-nos o
poder e o alcance da informação dita na primeira pessoa.
Ana Maria Macedo maceana@gmail.com
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