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Fomos recentemente alertados relativamente à situação em que se encontra o Fontanário Barroco da Rua Andrade Corvo (séc. XVIII), na zona relvada contígua ao muro do jardim do Palácio dos Biscainhos, pelo facto de: o elemento central estar coberto de vegetação, a Cruz de Lorena ter desaparecido e haver risco iminente de ruir por erosão do suporte à retaguarda.
Perante este alerta, visitámos o local e confirmámos que a parte central do fontanário está efectivamente coberta de um manto denso de hera na retaguarda e, na frente, a hera forma um toucado que quase cobre o brasão e já esconde a esfera que o encima, não havendo sinais da Cruz de Lorena.
O muro de granito que o suporta apresenta, em alguns pontos, sinais de risco.
Sabemos que a hera cresce facilmente em espaços abandonados e causa danos nos muros.
A quantidade que se observa não é, com certeza, recente.
Tratando-se de um monumento barroco, na cidade que se afirma como Capital do Barroco, e sendo propriedade do Município de Braga, que no séc. XX o colocou neste local, um espaço público e de uso público, esperava-se que os responsáveis pelo património, no Município, estivessem mais atentos e zelassem por este fontanário que, inicialmente, se encontrava na freguesia de S. Vicente, nas imediações do Solar de Ínfias (próximo da Igreja de S. Vicente), onde, antes, abastecia a população de água.
Também se esperava que quem reside nesta zona se apercebesse da situação, como aconteceu com o senhor que nos alertou. Será que alguém contactou o Município transmitindo este alerta? Esperamos que sim, pois o património a todos nós pertence.
Importa partilhar, com quem lê este entre aspas, que este Fontanário não usufrui de protecção inerente a uma classificação de âmbito nacional ou municipal, mas justificou distinção no Sistema de Informação do Património Arquitectónico (SIPA) - DGPC, que o apresenta como “Arquitectura infraestrutural, barroca. Chafariz barroco de espaldar, de grande largura, com três módulos de chafarizes, dispostos espaçadamente, sendo o central avançado decorativamente mais rico, encimado por frontão curvo, interrompido por brasão e rematado por cruz sobre esfera. Tanque de forma irregular com formas curvas e rectas.”
Perante a confirmação da situação, no local, actuámos como compete a uma associação de defesa do património: contactámos o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Braga, transmitindo a informação disponível no SIPA-DGPC, não só a referida mas, também, a descrição em caixa nesta página. Enviámos fotografias e listámos as anomalias observadas:
- já não não possui a Cruz de Lorena, que estava sobre a esfera como refere o Sistema de Informação do Património Arquitectónico (SIPA) – DGPC;
- a parte superior está coberta de vegetação, de ambos os lados, cujas raízes se agarram ao muro de suporte;
- tudo indica que este muro se encontra em risco, em alguns pontos, uma vez que já tem blocos de granito deslocados.
Para além do risco de perda, lamentámos que o abandono a que tem estado sujeito o fontanário não transmita, na nossa opinião, uma boa imagem de Braga, cidade que se afirma como Capital do Barroco. É essencial que o Município reconheça o valor deste Fontanário e, como tal, contribua para evitar a sua perda, facilitando a sua valorização enquanto importante testemunho do período barroco, tão importante para a identificação de Braga e caracterização do Norte de Portugal.
Nesse sentido, uma vez que este fontanário não usufrui de proteção legal sugerimos que:
- o Município reconheça valor ao Fontanário, atribuindo-lhe classificação de âmbito municipal;
- a vegetação seja retirada de acordo com as boas práticas de intervenção em património com estas condicionantes e características;
- seja garantida a estabilidade do monumento;
- sejam desencadeadas medidas no sentido de localizar a Cruz de Lorena que existia sobre a esfera, de modo a que volte ao local de origem.
Esperamos que este alerta conduza à retirada da hera, à conservação do muro de suporte e à descoberta da Cruz de Lorena. Que contribua, também, para uma maior atenção, relativamente ao património, por parte do Município de Braga.
ASPA
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Descrição do Fontanário da Rua Andrade Corvo no Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA)- DGPC
"Chafariz com espaldar de grande largura, percorrido por embasamento e moldura recta superior, tendo três grupos escultóricos dispostos espaçadamenente. O central, mais rico, é delimitado por pilastras rematadas por urnas e possui avançado corpo com quatro pilastras, de capitel em forma de lótus, encimadas por frontão curvo interrompido por brasão do Arcebispo - Príncipe Dom José de Bragança ladeado por volutas e sobrepujado pelo chapéu arcebispal. O corpo é rematado em aletas sobrepostas e cruz sobre esfera. As pilastras centrais ladeiam dois golfinhos entrelaçados sobre conchas que se ligam às borlas do brasão do Arcebispo. Entre estas pilastras e as laterais definem-se molduras côncavas gravadas com "ANNO", na esquerda, e "D 1742", na direita. Fronteiro, tanque de formas curvas e rectas. Os grupos escultóricos laterais, mais singelos, têm embasamento avançado, encimado por base e corpo à face do espaldar, sensivelmente côncavo, decorado com festões e molduras, sendo rematado superiormente por urna. Já não tem as taças e bicas de água e fronteiro ao embasamento têm banco de pedra".
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