Na sequência do entre aspas anterior - "O Granito de Braga e Urbanismo" - pedimos a colaboração de José Brilha, Geólogo e Professor na Universidade do Minho, no sentido de se pronunciar sobre essa mesma matéria. Centrou-se na geodiversidade, "uma das componentes
essenciais de qualquer território, mas provavelmente uma das que mais passa despercebida
à sociedade".
Relembramos a imagem que ilustra este texto e respetiva legenda:
Os alertas que destacamos não dispensam a leitura do texto integral:
Nos últimos 20
anos, a população residente no concelho de Braga aumentou dos cerca de 165 mil habitantes
para um pouco mais de 193 mil (segundo dados preliminares dos Censos 2021).
Tendo em conta os 183 km2 de área do concelho, existem atualmente em
média 1056 habitantes por km2. O aumento de população numa área geográfica
que não se expande acarreta, invariavelmente, desafios a diversos níveis que
devem ser devidamente respondidos pelos diversos agentes autárquicos.
Os aglomerados
urbanos são sistemas complexos onde interagem componentes naturais
(geodiversidade, biodiversidade e clima), antrópicas (habitações e outros
edifícios, vias de comunicação e outras infraestruturas) e sociais (os
residentes e visitantes). Só uma visão integrada destes sistemas permite uma gestão
social e ambientalmente sustentável dos territórios. Para isso é essencial
conhecer as características próprias de cada sistema e, principalmente, as suas
interações que, frequentemente, são específicas para cada território. Um
concelho como Braga não pode ser gerido com soluções idênticas às implementadas
num concelho da ilha da Madeira, apenas para referir um exemplo.
Dos vários sistemas
referidos, irei centrar-me na geodiversidade, uma das componentes essenciais de
qualquer território, mas provavelmente uma das que mais passa despercebida à
sociedade. A geodiversidade compreende a variedade de elementos não vivos da
natureza (minerais, rochas, fósseis, solos e processos que os formam) e que
fornecem benefícios variados aos ecossistemas e, claro, a todos os seres
humanos. As rochas, solos e minerais são o suporte da biodiversidade e de todos
os edifícios e infraestruturas que construímos. As rochas armazenam a maior
parte da água doce do planeta, suscetível de ser usada para abastecimento
humano, fornecem os recursos geológicos imprescindíveis para o nosso
desenvolvimento e bem-estar, assim como para dar resposta às atuais políticas
de transição energética e descarbonização relacionadas com os efeitos das
mudanças climáticas. A investigação científica em geociências permite conhecer
os processos que decorrem há milhões de anos no nosso planeta, que continuam
hoje e continuarão no futuro, facultando-nos tomar as melhores opções possíveis
para uma adequada gestão dos nossos territórios. Alguns elementos da
geodiversidade apresentam elevado valor cénico, convertendo as paisagens num
atrativo turístico com impacto económico significativo.
Durante os últimos
anos, têm-se multiplicado iniciativas que promovem as chamadas "nature-based
solutions". Este princípio consiste em planear e executar todas as
intervenções que se pretendem fazer num território tendo em conta a dinâmica
dos processos naturais, evitando soluções de engenharia "agressivas"
sobre o meio ambiente que, ao tentarem resolver problemas no imediato, acabam
por se tornar desastrosas no médio-longo prazo, em especial quando ocorrem
fenómenos naturais de maior intensidade. Não podemos esquecer, e isto está
perfeitamente registado na geodiversidade, que precipitações de grande
intensidade causam subidas extraordinárias dos rios, episódios de alta e baixa
temperatura atmosférica, oscilações do nível do mar, entre outros fenómenos
naturais, que sempre aconteceram e certamente irão continuar a ocorrer no
futuro.
O município de
Braga, tal como muitos outros em Portugal, deve procurar as melhores soluções
tendo em conta as características naturais do seu território. O conhecimento
técnico e científico que existe, assim como a disponibilidade de geólogos
especializados em planeamento e ordenamento do território, não permitem
compreender que as autarquias continuem a desempenhar as suas atribuições na
área ambiental com enormes fragilidades, comprometendo assim a qualidade de
vida dos seus cidadãos.
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