INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2024 comemorou 47 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

terça-feira, 20 de maio de 2025

ENTRE ASPAS: "Casa da Memória da Mulher no Recolhimento das Convertidas"

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O Recolhimento das Convertidas tem sido objeto de inúmeras agressões, no geral devidas ao descuido e ao descaso, sem que haja atuação da parte das entidades responsáveis no sentido de salvar este Monumento de Interesse Público, um memorial do barroco conventual, único, que manteve a sua autenticidade até ao séc. XXI.


Restou à comunidade e a entidades como a ASPA manifestarem-se de forma persistente junto de quem pode atuar no sentido de evitar a condenação definitiva do monumento, sublinhando a perda irreparável que significaria o seu desaparecimento, não só para Braga, mas também para o país.

Foram inúmeros os alertas junto da anterior tutela do património (DRCN e DGPC) e do Ministério de Administração Interna (MAI), acompanhados de imagens elucidativas. Os responsáveis por esses organismos não têm dúvidas, com certeza, que o Recolhimento das Convertidas se encontra em risco e que a Capela poderá não resistir por muito mais tempo. Uma janela aberta e vidros partidos foram motivo de alerta recente junto do MAI e do Património Cultural I.P.

 

Foi perante este cenário e ameaça de perda, que várias entidades e personalidades ligadas à cultura, ao património, à intervenção cidadã e à comunidade académica, se uniram no propósito de pôr fim à degradação galopante do edifício do Recolhimento das Convertidas, sugerindo às entidades públicas com capacidade de intervir – CIM Cávado e Câmara Municipal de Braga, Património Cultural IP e CCDR-Norte – a sua recuperação e reafectação a novas funcionalidades, como CASA DA MEMÓRIA DA MULHER.

Neste sentido, assegurada a recuperação do edifício, são propostos três eixos fundamentais de estruturação do projeto:

  • Criação de um Espaço de Memória do Recolhimento das Convertidas.
  • Aproximação à comunidade académica, através da promoção de investigação, estudo e divulgação da condição feminina, em Braga, em Portugal, na Europa e no Mundo.
  • Abertura à comunidade: espaços e iniciativas. 

A criação da CASA DA MEMÓRIA DA MULHER pressupõe uma reabilitação que respeite a autenticidade deste memorial do barroco conventual e que salvaguarde o património edificado, associando-lhe o património imaterial decorrente da memória do que foi este espaço e das memórias de quem o habitou.  Esse contexto muito especial permitirá diferentes valências e uma panóplia alargada e regular de atividades que contribuirão, com certeza, para o enriquecimento da oferta cultural e educativa na cidade, apelando a um amplo envolvimento da comunidade.

Tendo a ASPA avançado com esta proposta, foi com enorme satisfação que viu associar-se à mesma a CIVITAS Braga, a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), a APAV (Associação de Apoio à Vítima), o Tin.Bra (Academia de Teatro de Braga), a Associação Cultural SUONART e o Grupo de Cantares Tradicionais Mulheres do Minho, bem como elementos da comunidade. Estamos certos de que, a breve prazo, outras entidades e personalidades se juntarão na subscrição desta proposta que, neste momento, já reúne o apoio de de subscritores de diversas áreas - movimento associativo e cultural, comunidade académica, etc. –, bem como de diversas organizações e sensibilidades políticas.

As entidades e personalidades subscritoras entregaram à CIM - Cávado, ao Património Cultural I.P. e à CCDR-N Cultura e Património, bem como à Senhora Ministra da Cultura e ao ICOMOS, as razões e o sentido da proposta de criação, no Recolhimento das Convertidas, da CASA DA MEMÓRIA DA MULHER.

Espera-se que, a breve prazo:

  • A tutela do Património realize uma avaliação técnica da situação em que se encontra o Recolhimento das Convertidas e a Capela da São Gonçalo, para que sejam definidas soluções para a sua conservação e restauro, com respeito pela autenticidade deste memorial do barroco conventual, de modo a garantir a preservação do espírito do lugar.
  • Seja concluído o processo de permuta, entre a CIM Cávado e o Estado Português, de modo a que o Recolhimento das Convertidas passe, definitivamente, para a propriedade da CIM Cávado.
  • Que a CIM Cávado, com o contributo do Património Cultural IP, organize o projeto de reabilitação do edifício tendo em vista a criação da CASA DA MEMÓRIA DA MULHER.
  • Que o Património Cultural I.P. e a CCDR N encontrem fontes de financiamento, para que a conservação e restauro se concretize, permita salvar o monumento e dar-lhe um uso público como polo Cultural e Educativo ao serviço da comunidade.

Neste momento, em que o monumento está em risco, é essencial a união de esforços, por parte destas entidades públicas, para o salvar. Tal como foi necessária a união de organizações da sociedade civil para organizar esta proposta de transformação do Recolhimento das Convertidas em CASA DA MEMÓRIA DA MULHER, para o salvar e dinamizar, com uso público, de modo a permitir a sua entrega às gerações vindouras.                                                                                                                                                                                                ASPA

Passaram já três séculos desde que, em 25 de abril de 1722, foi inaugurado o Recolhimento das Convertidas e 13 anos desde a sua classificação como Monumento de Interesse Público (Portaria nº 665/2012). Um tempo longo que culmina na agonia lenta deste memorial do barroco conventual, um elemento patrimonial valioso pelo que representa e pela sua singularidade que, apesar de ter resistido à ruína plena, poderá sucumbir se nada for feito para o salvar.

Nascido num 25 de abril, dia em que se comemora a Liberdade, este edifício representa bem o mote escolhido este ano para a celebração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, comemorado a 18 de abril: Património Resiliente Face a Catástrofes e Conflitos. Mote que foi o ponto de partida para este projeto.

Para salvar o Recolhimento das Convertidas e a Capela de São Gonçalo é imprescindível o empenho do novo Governo, bem como dos deputados eleitos por Braga, para a Assembleia da República. O interesse público assim o exige!  

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