A página "entre aspas", no Diário do Minho, é um espaço que permite divulgar preocupações, alertas e ações da ASPA, no que ao Património Cultural e Ambiental diz respeito.
No âmbito da articulação com Escolas percebemos que há muito boas práticas em curso, em especial quando há evidências fortes de uma aposta conjunta, nas diferentes escolas de um agrupamento, tendo em vista sensibilizar crianças e jovens relativamente a problemáticas atuais que exigem conhecimento, responsabilidade e competências de atuação no quotidiano. Quando há evidências de valorização da formação Cidadã, em articulação com aprendizagens previstas no currículo de outras disciplinas, com base em problemáticas concretas, percebe-se que estamos perante práticas a que é importante dar visibilidade. Neste caso a ÁGUA foi o tema que uniu alunos, professores e escolas. Foi uma oportunidade para dar a conhecer o Complexo das Sete Fontes - monumento nacional que reune grande manancial de água - a um número significativo de crianças jovens e respetivas famílias.
A revista "defacto", recentemente apresentada na Livraria Centésima Página, é uma evidência dessa aposta na educação patrimonial e ambiental, da parte do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio. Resultou do trabalho de professores, numa perspetiva interdisciplinar, com base em aprendizagens previstas em várias disciplinas de cada ano de escolaridade.
Por isso mesmo desafiamos o Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio a partilhar esta Boa Prática educativa, pois os bons exemplos devem ser divulgados.
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Água - desde sempre fator maior de sabedoria popular, filosófica, religiosa, simbólica fonte de profecias e parábolas, sem esquecer a disputa territorial e gestão das comunidades.
Há milhares de anos, na Índia surgem as primeiras evidências de sistemas de abastecimento de água. Os romanos criaram redes de distribuição a populações, legado patrimonial e monumental, suporte de redes posteriores de água potável. Em Portugal, é do séc. XVI o Aqueduto da Água da Prata (Évora), e do séc. XVIII o Aqueduto das Águas Livres (Lisboa) e o Complexo Monumental das Sete Fontes (Braga). Notícias recentes alertam para desperdício da água (30%), uso consciente e fragilidade dos solos por chuva intensa. Braga comemorou o Dia da Água no Complexo das Sete Fontes.
Sensibilizar a comunidade escolar para a problemática da água é um dever, para garantir o direito ao seu acesso no futuro. A cultura não cai do céu, só a chuva, e até esta escasseia gerando secas infindas. Por isso, o Agrupamento de Escolas de Alberto Sampaio (AESAS), como tema relevante para coesão da comunidade, escolheu a ÁGUA, património natural, histórico, social e cultural. A água jorrou pelo agrupamento em projetos, do pré-escolar ao secundário, culminando na habitual publicação da sua revista.
A revista defactoi provoca. Resulta de trabalho autónomo elaborado para publicação. Não pretende alcançar todas as atividades do ano (algumas nem terão expressão em papel), mas desafia a comunidade a refletir sobre a problemática e a escrever para um artefacto público. Convida também a academia e a sociedade, promovendo a reflexão sobre problemáticas atuais que implicam diversas áreas do saber, razão pela qual merece leitura. É uma revista feita para a comunidade urbana, pois não se fecha em paredes de escola.
Este número explora a história recente do Complexo das Sete Fontes, e divulga visitas feitas a este monumento nacional.
Mas nem tudo cabe na “defacto”. No JI de Esporões as turmas “visitaram o fundo do mar” partindo da exploração dos animais marinhos para no final criarem um “mini oceanário” nos corredores.
No 1.º ciclo, cada ano observou um modo de cada gota ser relevante no tesouro que é a água. O tema gerou visitas de estudo, debates, construções 3D, espetáculos, entre outras ações.
O 2.º ciclo, na EB de Nogueira, focou o ciclo urbano da água, o seu percurso do rio ao mar e a preservação de ecossistemas aquáticos (Pavilhão da Água, Nascente do rio Este, ETA, Braval e ETAR), culminando no musical “A Floresta d`Água”, com a encenação em português da canção “Bring me a little Water, Silvy”. A produção do vídeo H2OFF “Porque a água não é só tua!” expressa, de modo criativo e artístico, o trabalho das turmas de 2º ciclo e dos seus vários professores. Comum é o objetivo da importância da água, a sua proteção e valorização para um futuro sustentável. Os alunos aliam música, interpretação e História, e elevam a sua voz em defesa do tema, no “IV encontro da Comunidade Educativa de Braga". Em simultâneo o "H2OFF" foi promovido pela AGERE, associada ao movimento H2OFF.
No 7.º ano, atividades interdisciplinares moveram alunos, professores e famílias numa abordagem criativa, científica, artística e cívica, expressa em projetos de articulação. “Poesia e Ciência: Água como Inspiração e Objeto de Estudo”, das disciplinas de Português e Físico-Química, decorreu na Biblioteca Escolar, aproximando discurso literário e pensamento científico, as dimensões simbólica e física da água, a partir do poema “Lágrima de Preta”, de António Gedeão. Experiências laboratoriais sustentaram a produção de textos reflexivos e criativos. “Família e Alunos Juntos pela Água”, na Semana da Família, envolveu alunos e encarregados de educação em dinâmicas que combinaram realidade aumentada, jogos, quizzes, criação de cartazes e reflexão conjunta sobre a importância de poupar e valorizar este recurso essencial. Firmam-se competências de pensamento crítico, sensibilidade literária, consciência ecológica sobre a água enquanto elemento natural, cultural e humano.
No secundário, as visitas de estudo ao Complexo Sete Fontes, acompanhadas pelo arqueólogo Ricardo Silva e elementos da AGERE, garantiram o conhecimento próximo de uma realidade do passado que se integra no novo Parque da Cidade, com destaque para a expressão artística em desenho. Projetos de cidadania ativa garantiram a pesquisa e escrita intencional em defesa da água e contra o plástico poluidor – problema a resolver na escola.
A temática foi pretexto de aprendizagens significativas, articulação de saberes e estreitamento de laços na comunidade, valorizando a interdisciplinaridade, a criatividade e a cidadania ativa.
Na Livraria Centésima Página, a revista “defacto” fez a sua apresentação à cidade, também com conversa profícua e participação de intervenientes nas atividades e colaboradores, além de representante da edilidade, tendo em vista a defesa deste monumento nacional - “Sistema de Abastecimento de Água à Cidade de Braga, no séc. XVIII” - conhecido por Sete Fontes, e a transformação da área protegida num Parque Verde, há muito aguardado para usufruto da população. Foi relembrado o processo de intervenção cívica/ cidadã que leva já 30 anos.
Maria de Jesus Fernandes
Coordenadora da equipa da revista defacto