INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2023 comemorou 46 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

ENTRE ASPAS - "Variedades vegetais de fruteiras: Património Vegetal de Interesse Municipal!"

A região do Minho foi em tempos uma importante região de produção de hortofrutícolas, principalmente de maçã, pera, laranja, cereja, milho branco e outras espécies hortícolas. 

No sentido de salvaguardar o partimónio frutícola regional, as autarquias, através das Assembleias Municipais, podem e devem dar um importantíssimo contributo em defesa da região. Assim, o reconhecimento das variedades regionais de fruteiras como património vegetal de interesse municipal, reveste-se de grande importância, não só para um desenvolvimento regional assente em produtos tradicionais, bem como para  a sua proteção contra o possível “registo de propriedade”, por parte de entidades estrangeiras. Estão em causa pelo menos, 118 variedades de macieiras, 54 de pereiras e 2 de laranjeiras. Tal desafio foi lançado recentemente, pelo Professor Raúl Rodrigues, a todos os municípios do Minho.
Diário do Minho - 29 maio 2017
Consultar a lista de variedades aqui.
Maçã Verdeal

Maçã Sangue-de Boi

Maçã Porta-da-Loja
Posteriormente enviámos este texto, para conhecimento, à Assembleia Municipal de Braga. 
Na Assembleia Municipal realizada no dia 30 de junho, o Professor Raúl Rodrigues  apresentou o pedido de classificação das variedades regionais de fruteiras do Minho, como património vegetal de interesse municipal, petição que contou com a aprovação deste órgão autárquico.                        
Diário do Minho - 2 julho 2017

quarta-feira, 24 de maio de 2017

A FORÇA DA CIDADANIA

Mais um caso em que a CIDADANIA demonstra a  sua força. Desta vez tem em vista a defesa da Calçada Portuguesa.

Retirado aqui

Petição pela  Defesa da Calçada Portuguesa, por iniciativa do Fórum Cidadania Lx, reuniu assinaturas em números suficiente para ser levada à Assembleia da República e analisada pela Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Comissão 12ª - CCJD XIII.
À semelhança do que aconteceu em Braga, entre 2009 e 2011, no que diz respeito ao Complexo das Sete Fontes, em que um movimento de cidadãos promoveu uma petição e recolheu assinaturas em número suficiente para que o assunto fosse analisado na Assembleia da República (14-07-2010). O "Sistema de abastecimento de águas à cidade de Braga, do séc. XVIII", conhecido por Complexo das Sete Fontes,  só foi classificado em 2011 (pelo Decreto nº 16/2011, com ZEP definida pela Portaria 576/2011), 16 anos depois de a ASPA ter pedido a sua classificação (27-03-1995).

E outros casos há, em Portugal, em que a FORÇA DA CIDADANIA tem sido demonstrada. 
Quando a Administração Pública não exerce o papel regulador que lhe é devido, resta a consciência coletiva através de movimentos de cidadãos.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Tertúlia "PATRIMÓNIO, CULTURA E CIDADANIA"

Refletir sobre os sentidos atuais e renovados da ligação entre Património, Cultura e Cidadania, foi o objetivo da tertúlia que a ASPA realizou ontem na BLCS e que juntou cerca de uma centena de participantes.
Num clima informal, Maria Manuel Oliveira, João Cardoso Rosas e Daniel Miranda, conversaram sobre o tema, moderado por Manuel Sarmento. Ouviram preocupações apresentadas por alguns dos presentes,  às quais responderam com base em exemplos relativos à sua experiência académica e/ou laboral. Boas práticas, em curso noutros municípios, que Braga teria grandes vantagens em seguir.
Foi realçada a importância da consciencialização coletiva e do papel regulador da Administração Pública para o controlo dos mercados, considerados a principal ameaça ao Património, na atualidade.





segunda-feira, 15 de maio de 2017

ENTRE ASPAS: "Do Salão Recreativo Bracarense ao S. Geraldo"

Diário do Minho - 15 maio 2017

O edifício do S. Geraldo constitui um interessante legado do séc. XX bracarense que devemos conseguir preservar para as gerações futuras. O caráter único do teatro, a sua antiguidade, o bom estado estrutural e as memórias de tantos bracarenses impõem a todos a obrigação de lhe encontrar, quanto antes, uma terceira vida cultural!       
Assim termina o texto de Luís Tarroso Gomes intitulado "Do Salão Recreativo ao S. Geraldo". Um texto que divulga, a quem ainda não sabia, a importância que esta sala de espetáculos teve (e pode continuar a ter) para Braga. Tanto como Salão Recreativo Bracarense como, mais tarde, como S. Geraldo.


A defesa do Património e dos bens culturais é um desígnio da ASPA.
Daí que vários dirigentes, sócios e colaboradores da ASPA, se tenham envolvido na defesa do S. Geraldo, por considerarem que esta sala de espetáculos constitui uma reserva cultural para o futuro. 
E, porque o tempo urge, a ASPA tem esperança que, enquanto entidades relevantes na cidade, a Arquidiocese e a CMB encontrem uma solução viável, que permita dar, sem alterar a sua estrutura, um uso cultural e imediato ao S. Geraldo, reforçando a diversidade de equipamentos culturais imprescindíveis para o sucesso das candidaturas de Braga a Cidade Criativa da Unesco e a Capital Europeia de Cultura, num contexto em que o Cinema, o Audio-visual e as Artes Performativas se encontram em plena expansão na Europa.

Do Salão Recreativo Bracarense ao S. Geraldo"

A história do Salão Recreativo Bracarense/S. Geraldo merece um estudo aprofundado. Só assim conheceremos o pulsar desta casa de espetáculos que, como refere Miguel Bandeira, citando Luís Soares Carneiro, seguiu a evolução funcional deste tipo de edifícios: “transformação dos Teatros-Circos, em Teatros-Teatros, em Teatros-Cinemas, em Cine-Teatros e, depois, finalmente, apenas em Cinemas.”
Foi já apenas com função de cinema que conheci a enorme sala do S. Geraldo em final dos anos 80. Habituado às salas pequenas do centro Avenida (BragaShopping), era um fascínio e um enorme privilégio frequentar uma sala do tempo dos meus avós!
A história deste edifício tinha-se iniciado 80 anos antes. Com a entrega à Câmara Municipal, em 1907, do extinto Convento dos Remédios, procedeu-se à reconfiguração urbana do quarteirão. Uma parte do Convento deu origem a novos espaços públicos - topo da Av. Liberdade, rua Gonçalo Sampaio, alargamento do Largo Carlos Amarante -, ao mesmo tempo que o miolo do Convento foi dividido em sete lotes. Porém, ainda hoje o limite norte do Convento é percetível nas fotos aéreas e, no subsolo, conservam-se alicerces do edifício religioso.
Dois anos depois, o padre Manuel Ribeiro Braga adquire em hasta pública um dos lotes. Desconhece-se se a intenção era já a de construir um teatro. O que é certo é que, em Agosto de 1916, a Câmara aprova o projeto de Bernardo José de Lima. Em Setembro do ano seguinte, Ribeiro Braga vende o lote à sociedade «Salão Recreativo Bracarense» representada por ele (tesoureiro), António Junqueira (presidente) e Manuel Pereira Vasconcelos (secretário). A sociedade manter-se-á proprietária do edifício até 2007.
Em 1924 a nova casa de espetáculos estava em funcionamento. A sala principal dispunha de plateia, frisas, galerias e, no 1º piso, camarotes e balcão. O palco possuía fosso de orquestra e a sua altura permitia que os cenários e pano subissem a direito. Realizam-se conferências, recitais, exposições, sessões  cinematográficas, banquetes, bailes, festas, etc. Nesta altura as fitas eram mudas e por isso acompanhadas musicalmente por quartetos residentes. Foi palco também de operetas, revistas e variedades levadas à cena por amadores, designadamente a Sociedade Dramática Bracarense (direção de José Mesquita de Araújo) e, após 1937, os Amadores Bracarenses Reunidos (direção de José Salreta).
Foi sofrendo obras de adaptação e em 1949 foi apresentado um grande projeto de modernização de Raul Subtil. Apesar de manter a referência Salão Recreativo, é com a designação comercial de S. Geraldo que reabre em Junho de 1950, já com o icónico anúncio em neón no topo da fachada. O nome terá sido escolhido por referência ao demolido Teatro S. Geraldo (1861-1920, existente em frente à Arcada, e com o qual é frequentemente confundido).
A sala renovada manteve o palco antigo, alargando a boca de cena de 8 para 12 metros (igual à do Theatro Circo) e passou a dispor de um único balcão. No resto do edifício, as divisões interiores foram alteradas e a decoração e equipamentos modernizados. A lotação da sala aumenta e a exploração passa a ser feita pela Victoria Cine, Lda. O acentuar da vocação cinematográfica não impediu a utilização para outro tipo de atividades, incluindo teatro, revistas, sessões infantis, concertos, récitas, encontros, festivais e, já depois do 25 de Abril, comícios políticos.
Nos anos 70 a entrada e as bilheteiras são alteradas e em 1983-85 o edifício perde o lado sul, com a construção do Pé Alado. Em Dezembro de 1990 é exibido o último filme pela Victoria Cine. Em 1994-95 a sala volta a funcionar, substituindo durante alguns meses os cinemas Avenida destruídos num incêndio.
O edifício do S. Geraldo constitui um interessante legado do séc. XX bracarense que devemos conseguir preservar para as gerações futuras. O caráter único do teatro, a sua antiguidade, o bom estado estrutural e as memórias de tantos bracarenses impõem a todos a obrigação de lhe encontrar, quanto antes, uma terceira vida cultural!                                                       

                                                                        Luís Tarroso Gomes