Só resta um quiosque centenário...
As imagens dos arquivos fotográficos pertença da ASPA, que se encontram na Fototeca do Museu Nogueira da Silva/Universidade do Minho, permitem conhecer a imagem urbana de Braga, desde o séc. XIX a meados do séc. XX, na qual os quiosques marcam presença. Manoel Carneiro (séc. XIX-XX) revela-nos um número significativo de quiosques e outros equipamentos urbanos, situados em praças do Centro Histórico de Braga: Praça da República (Arcada), Praça do Município, Largo do Pópulo, Campo da Vinha, Campo de Santiago, Campo das Hortas e Jardim da Senhora-a-Branca. Arcelino de Azevedo (1940-1960) revela-nos uma outra localização de dois desses quiosques hexagonais, desde então no Largo Barão de São Martinho e Largo de São Francisco. No final do séc. XIX, e início do séc. XX, havia vários quiosques em cada uma das Praças e Largos históricos.
Desse conjunto de quiosques, com formas e cores diferentes, vários hexagonais, só dois resistiram até ao séc. XXI e, desses, só um se mantém no espaço público em 2025, o quiosque pintado a verde, no Largo de São Francisco, que nos últimos anos foi usado como local de venda de flores e plantas. Hoje destaca-se pelo abandono a que foi sujeito.
Sabendo que os quiosques foram equipamentos urbanos de referência em épocas passadas, espaço de comércio, convívio social e lazer, onde se conversava sobre os mais variados temas suscitados pelos jornais e revistas que vendiam, a ASPA lançou um desafio à Câmara Municipal de Braga, em 2018, no sentido de reconhecer valor patrimonial aos quiosques históricos, promover o seu estudo e formalizar a classificação como equipamento urbano de interesse municipal, tendo em vista a sua conservação no espaço público.
O pedido de classificação, reforçado em 2024, foi acompanhado de imagens dos arquivos fotográficos Manoel Carneiro e Arcelino de Azevedo, ambos pertença da ASPA, que nos revelam uma imagem urbana de Braga marcada pela presença de quiosques, coretos, mictórios e outros equipamentos urbanos. Manoel Carneiro mostra-nos quiosques que há muito desapareceram.
Outras cidades, em Portugal e outros países, reabilitaram os seus quiosques, dando-lhes um uso atual. Braga podia seguir o exemplo, pois os quiosques, sendo marcos do passado no espaço público, podem ter usos atuais, conforme vemos em cidades que valorizam o património e reconhecem a sua importância histórica. Podem ser o ponto de partida para narrativas que lembrem o passado, através de diálogo com o edificado da envolvente - por exemplo através de sessões de história ao vivo que recriem vivências do quotidiano do séc. XIX/XX -, de modo a incentivar o pensamento crítico e promover uma compreensão mais profunda do património.
Os quiosques, tal como os coretos, são recursos importantes para a mediação cultural, como contributo para a promoção de literacia cívica e da cidadania cultural, de especial importância numa cidade onde o passado se cruza com o presente e o património cultural construído precisa ser respeitado. São importantes sob o ponto de vista educativo, cultural e turístico.
Foi uma boa surpresa constatar que, em véspera das recentes eleições autárquicas, o Executivo Municipal cessante aprovou, finalmente, a classificação do Quiosque do Largo de São Francisco como Monumento de Interesse Municipal (MIM). O único que resistiu, apesar de se encontrar degradado.
Valeu a pena a persistência da ASPA!
Estranha-se, contudo, que a designação atribuída seja “Quiosque de Flores do Largo de S. Francisco”, uma vez que só nos últimos anos foi usado como local de venda de flores e, entretanto, deixou de ser usado como tal. Na página oficial do Património Cultural I.P. é possível verificar que se encontra em vias de classificação como Monumento de Interesse Municipal, designando-o “Quiosque de Flores do Largo de S. Francisco”!
De facto, apesar de este Quiosque se encontrar em vias de classificação, revela total abandono que não passa despercebido a quem lá passa. Assim, espera-se que, em breve, seja sujeito a conservação e restauro.
O Quiosque vermelho, que era um elemento marcante no Largo Barão de São Martinho, junto à “Brasileira”, também estava num estado idêntico. Mas, apesar dos alertas da ASPA e do pedido de classificação, desapareceu sem qualquer aviso. Procurámos saber para onde o levaram, mas tudo indica que só foi localizada uma parte deste quiosque centenário. Como foi possível?!
Como tencionam resolver este assunto os responsáveis por esta perda? Espera-se que o seu destino possa promover a reflexão, construtiva, conduzindo a melhores práticas em relação ao património.
Será que o quiosque vermelho, que foi vítima da inação ou insensibilidade em relação ao património, que impediu a sua conservação e classificação, a tempo de o salvar, ainda nos vai surpreender, quiçá como memória do final do séc. XIX/ início do séc. XX, num futuro museu da cidade?
Numa cidade histórica, como Braga, onde os arquivos fotográficos do séc. XIX e XX permitem conhecer o passado, não é difícil proteger o património e deixá-lo como herança a gerações futuras.
Teresa Barbosa
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A Câmara Municipal de Braga determinou, a 12 de setembro, a abertura do procedimento de classificação, como Monumento de Interesse Municipal, do Quiosque centenário que restou.
A ASPA, que apresentou a proposta de classificação em 2018, estranha a designação “Quiosque de Flores do Largo de São Francisco”, conforme referido no Edital nº 1578/2025, de 12 de setembro, uma vez que o referido quiosque só, nos últimos anos, teve esse uso.
Assim, sugeriu-se que a designação deste Monumento de Interesse Municipal seja alterada para “Quiosque Centenário do Largo de São Francisco”.
ASPA

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