É IMPORTANTE EXTRAIR ENSINAMENTOS DOS ERROS QUE FORAM E ESTÃO A SER COMETIDOS
O Minho, devido à sua geomorfologia, possui uma rede hidrográfica peculiar. Uma sequência de relevos, dispostos no sentido leste/oeste, determinou a formação de cursos de água não hierarquizados, diferentemente das bacias do Douro, do Tejo, ou do Guadiana. Esses relevos prolongam, em menor altitude, as serras da Peneda/Soajo, Amarela e Gerês, estas dispostas de Noroeste para Sudeste formando um anfiteatro.
Em Trás-os-Montes, todos os rios confluem para o Douro, de Norte para Sul. Sabor, Tua e Tâmega, são os principais eixos de uma intricada rede de drenagem hierarquizada, que abrange um vasto território.
Pelo contrário, no Minho regista-se uma sequência de rios, paralelos, que mesmo sem grande percurso, seguem directamente para o Oceano Atlântico. De norte para sul: Âncora; Neiva; Lima; Cávado, Este e Ave. O Cávado e o Ave drenam bacias de maior amplitude, mas sem qualquer comparação com a do Douro, ou mesmo com a do Minho. Cada um desses cursos de água possui características próprias e traçados individualizados. Porém são todos caudalosos, mesmo os com menor extensão.
Na verdade, o Minho é uma das regiões da Península Ibérica com maior pluviosidade, a par da Galiza, das Astúrias, da Cantábria e do País Basco, como sublinha Denise Brum Ferreira, no capítulo dedicado a “Ambiente Climático” da excelente obra “Geografia de Portugal”. O Minho tem uma pluviosidade média anual entre 1 600 mm e 2 500 mm (no arco montanhoso referido). Susanne Daveau estima que nas serras do Minho o valor possa ultrapassar 3 500 mm nos cumes oeste da Serra do Gerês (o local mais chuvoso da Escócia atinge 3 300 mm/ano). Assim, para aquela notável geógrafa, as serras do Minho, em particular a do Gerês, contam-se entre as mais pluviosas da Europa Ocidental. Talvez devido à sua proximidade do Oceano Atlântico e altitude.
Acima referimos o rio Este, habitualmente considerado tributário do Ave. Porém será mais certo afirmar que os dois rios se juntam, formando um único, até ao Oceano. De facto, ao contrário do Vizela, a confluência do Este e do Ave ocorre a escassos 6 Km do Oceano, pelo que é legítimo individualizá-lo. Deve sublinhar-se que o rio Este recolhe água de uma sequência de amplas bacias de recepção, ao longo do seu trajecto. Todas com volumes hidrográficos significativos. A primeira das quais é a zona das Sete Fontes.
Entre a nascente (nos contrafortes ocidentais da Serra do Carvalho) e S. Pedro de Este, o vale é relativamente encaixado, embora já com algumas linhas de água, embora sem relevância.
O primeiro grande afluente é a Ribeira das Sete Fontes, cujo nome primitivo seria de Passos, e que drena uma ampla área. Também é referida como Ribeira de São Vítor, devido à circunstância de passar junto à Capela de São Vítor-O- Velho.
A jusante, registam-se outros afluentes significativos como os da zona de Lamaçães, infelizmente totalmente urbanizada, sendo assaz difícil de analisar, supomos, o estado actual da drenagem das águas desta segunda bacia de recepção.
Na cartografia militar, a Ribeira das Sete Fontes está perfeitamente identificada. Distinguem-se perfeitamente os limites da bacia da recepção e o modo como se juntam as várias linhas de águas de maior importância. Com origem na vertente sudeste de Montariol e no Monte Pedroso, e ainda outra que sai da zona do Areal de Baixo.
A partir da zona da Quinta da Armada a ribeira segue a direito, ao longo da circular que serve o BragaParque, inflectindo depois para sudeste, para a Capela da São Vítor-O-Velho.
Neste local, a meio da Rua homónima, há um pontão formado por lajes que permitia cruzar a ribeira, o que leva a deduzir um caudal permanente. Recordamos que por aqui passava a Via romana que se dirigia de Bracara Augusta para Asturica Augusta. Quando se realizaram os estudos para cartografar a referida via romana (salvo erro em 2002) ainda se ouvia o ruído da água a correr sob o lajedo. Segundo observação da ASPA, ainda recentemente era possível escutar o ruído da corrente, o que já não acontece.
De São Vítor-O-Velho a ribeira seguia ao longo da Quinta dos Congregados, passando a oeste de um campo de futebol. Finalmente confluía no Este a montante de uma ponte
Hoje o traçado da Ribeira das Sete Fontes mal se distingue no Google Earth, engolido e alterado pela expansão da cidade. Felizmente foi possível salvar o vale das Sete Fontes, mesmo que já afectado por diversas construções que nunca deveriam ter sido autorizadas.
Apesar do concurso de sucessivas amplas bacias de recepção o rio Este, no concelho de Braga, tem um regime torrencial. Ou seja, o caudal depende da precipitação, seja no Outono, Inverno ou Primavera. Em momentos de chuva intensa é um curso de água quase feroz. Talvez por isso, no Mapa de Braunio, de 1594, observam-se pelo menos três pontes sobre o rio, o que era ditado precisamente por esse regime torrencial que não permitia a travessia a vau de pessoas, animais de carga e carros de tracção animal, sempre que a chuva era intensa e o caudal aumentava.
Para um último local verde e livre, onde tal seria viável (um terreno situado a nordeste dos prédios da Quinta da Armada), foi autorizada recentemente mais uma construção: um ginásio.
É importante extrair ensinamentos dos erros que foram e estão a ser cometidos.
Outra vasta bacia de recepção do rio Este é a extensa Veiga de Lomar, a que será dedicado um próximo “Entre Aspas”.
Francisco Sande Lemos
(Arqueólogo)
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