INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2023 comemorou 46 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

"ENTRE ASPAS": como tudo começou

40 ANOS DE ENTRE ASPAS

Faz amanhã, 13 de Fevereiro, quarenta anos que foi publicado pela primeira vez o “Entre Aspas” nas páginas deste jornal. Em 1999, mercê do espírito generoso do Senhor Félix Ribeiro, a APPACDM Distrital de Braga editou um livro reunindo 132 textos de entre os 361 publicados naquela coluna, até 1991. O volume foi organizado por Henrique Barreto Nunes e Ademar Ferreira dos Santos, autores do preâmbulo, do qual aqui se publica um excerto que explica como surgiu e se desenvolveu a referida coluna, que mais tarde viria a ocupar uma página inteira do jornal, sempre com ilustrações.

 

A CODEP (Comissão de Defesa e Estudo do Património), que esteve na origem da ASPA, apostou desde o início da sua actividade, em 3 de Fevereiro de 1976, no recurso à Imprensa como a melhor arma para atingir os objectivos a que inicialmente se propusera —o salvamento de Bracara Augusta.

Porém a ASPA, fundada em 30 de Janeiro de 1977, não prosseguiu nos primeiros anos da sua existência a mesma via, apesar dos bons resultados alcançados pela CODEP, tendo optado por recorrer a processos menos mediáticos e a outras estratégias de intervenção.

Foi com a criação do Núcleo de Braga da ASPA, que surgiu em 1979, procurando contrapor-se à preponderância dos elementos do Conselho Directivo que não viviam em Braga, que a Associação passou a revelar uma nova dinâmica e a ter uma intervenção mais regular e consistente a nível local, expressa no recurso sistemático à imprensa escrita.

Assim, a partir de 29 de Maio de 1979, começaram a surgir semanalmente nos dois quotidianos bracarenses («Diário do Minho» e «Correio do Minho») pequenas notas relativas a questões do património cultural local, pretendendo chamar a atenção da população (e das autoridades) para algumas situações que mereciam reparo.

Esse espaço, encimado pelo nome da Associação, manteve-se com alguma regularidade durante cerca de um ano, abordando temas de arqueologia, arquitectura e arte bracarenses, sendo aproveitado por vezes para anunciar iniciativas da ASPA ou recensear publicações.

As notas, algumas com certa carga crítica, eram assinadas com as iniciais dos seus autores, sendo as mais frequentes as de L.C. (Luís Costa), E.P.O. (Eduardo Pires de Oliveira), H.B.N. (Henrique Barreto Nunes) e A.G. (Egídio Amorim Guimarães), devendo ainda referir-se alguns desenhos de Luís Mateus.

Realizado o 2º Encontro Nacional das Associações de Defesa do Património Cultural em Braga, em 1981, organizado pela ASPA, a Associação ganhou uma maior dimensão, acentuando-se o seu prestígio e credibilidade.

Necessárias mudanças a nível dos órgãos directivos, concretizadas em Junho de 1981, estiveram na origem de uma nova dinâmica e de uma diferente estratégia de intervenção, de que o recurso à Imprensa local e nacional, através da elaboração e difusão de comunicados, foi o processo mais conseguido e de resultados mais frutuosos.

Surgiu então de novo a ideia de se conquistar um espaço nos jornais bracarenses. Contactados os seus directores, não foi encontrada qualquer receptividade por parte do «Correio do Minho», enquanto o Padre Silva Araújo nos abriu generosamente as páginas do «Diário do Minho», sem quaisquer restrições, recordando apenas que aquele era um jornal católico, propriedade da diocese bracarense.

Foi assim criada a secção «Entre Aspas» que, a partir de 13 de Fevereiro de 1984, começou a surgir semanalmente às segundas-feiras, na página 2 do «Diário do Minho». O grafismo da coluna ficou a dever-se a Francisco Botelho, tendo partido de H.B. Nunes a sugestão para o título.

O primeiro «Entre Aspas», intitulado DE REGRESSO explica os objectivos que se pretendiam atingir com a criação da secção:

Depois de alguns anos de ausência (note-se: em termos de colaboração regular), a ASPA volta às páginas do «Diário do Minho», para dialogar semanalmente com os seus leitores sobre questões que têm a ver com a defesa e valorização do património cultural que é de todos e a todos, por isso, incumbe salvaguardar. A partir de hoje, portanto, todas as segundas-feiras, esta coluna será um veículo das ideias, dos princípios e dos valores que, há mais de sete anos, constituem o fundamento da existência e da intervenção social da ASPA.

É nosso propósito — e desde já chamamos a atenção para ele — abrir na medida do possível este espaço à opinião, às dúvidas e às informações dos leitores do «Diário do Minho», sejam eles membros ou não da Associação, por forma a que o diálogo que pretendemos seja mesmo efectivo e não apenas pressuposto.

Para tal, é necessário que os leitores nos escrevam, nos interpelem directamente, nos desafiem. Simultaneamente, isso constituirá um estímulo para o nosso trabalho e uma prova de que não temos andado estes anos todos, pura e simplesmente, a «pregar para os peixinhos».

Para lá das perguntas, das dúvidas, das críticas, dos reparos, até mesmo (por que não?) das censuras — que sempre serão bem-vindas — a colaboração dos leitores poderá revestir-se, no plano informativo, de uma importância extraordinária.

Por sua vez, numa nota publicada na «Folha Informativa» da ASPA (n.º 16, Maio 1984), dá-se conta do nascimento do «Entre Aspas» e apelou-se de novo à colaboração dos associados.

Dezembro de 1997

Henrique Barreto Nunes e Ademar Ferreira dos Santos

IDEIAS, PRINCÍPIOS E VALORES

Os Entre Aspas passaram a ser publicados quinzenalmente, ocupando uma página do jornal, a partir do início da década de 90 do século passado, sendo desde então assinados pelos autores. Em 2024, a coluna Entre Aspas continua a ser um veículo das ideias, dos princípios e dos valores que constituem o fundamento da existência e da intervenção social da ASPA (Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural). É um espaço de divulgação do património – cultural e natural -, de incentivo à reflexão centrada em problemáticas culturais e ambientais de âmbito local, de valorização da educação patrimonial para empoderamento do cidadão e de alerta público relativamente a opções que colocam património em risco ou que se devem à inércia das entidades responsáveis pela defesa de património. Reflete a intervenção da ASPA no presente.

Continuamos a apelar à participação dos associados e a incentivar a ação cidadã em defesa do património cultural e natural.

Está disponível para colaborar? Então junte-se à ASPA!

 

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