INTERVENÇÃO CÍVICA EM DEFESA DO PATRIMÓNIO

A ASPA criou este blogue em 2012, quando comemorou 35 anos de intervenção cívica.
Em janeiro de 2024 comemorou 47 anos de intervenção.
Numa cidade em que as intervenções livres dos cidadãos foram, durante anos, ignoradas, hostilizadas ou mesmo reprimidas, a ASPA, contra ventos e marés, sempre demonstrou, no terreno, que é verdadeiramente uma instituição de utilidade pública.
Numa época em que poucos perseguem utopias, não queremos descrer da presente e desistir do futuro, porque acreditamos que a cidade ideal, "sem muros nem ameias", ainda é possível.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

ENTRE ASPAS "A INVASÃO DA CIDADE"

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Todos os dias vemos o Jardim de Santa Bárbara repleto de turistas, que apreciam e fotografam os seus canteiros coloridos. As plantas e, em particular, as suas flores, transmitem sensação de bem-estar a todos aqueles que as observam. Entre outras razões, esse é dos motivos pelos quais, numa cidade, os jardins e canteiros são elementos essenciais.

A sociedade atual, que convive ainda com uma pandemia, dá naturalmente mais valor ao ar livre e hoje apreciamos com outros olhos a vegetação à nossa volta. E muitas das espécies vegetais que nos rodeiam não são nativas da nossa região, tendo sido intencionalmente trazidas do seu habitat natural, muitas vezes longínquo, ou acidentalmente introduzidas no nosso território – estas são designadas plantas exóticas ou não-nativas. Enquanto que algumas destas plantas exóticas podem coexistir de forma equilibrada com as espécies nativas, outras desenvolvem-se muito rapidamente e escapam ao controlo humano, tornando-se nocivas e causando impactes ambientais e económicos negativos – estas são designadas plantas invasoras. Atualmente, a legislação que vigora em Portugal – Decreto-Lei nº 92/2019 para Portugal Continental e a Madeira e Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A para os Açores – inclui mais de 200 espécies de plantas como invasoras. E são várias as plantas que nos rodeiam e que constam desta lista.

Os bons-dias (Ipomoea indica), a erva-das-pampas (Cortaderia selloana), a figueira-do-inferno (Datura stramonium), a tintureira (Phytolacca americana) e a erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis) são exemplos de plantas invasoras que, em Braga, ocupam o espaço que, antes, era ocupado por plantas nativas!

Algumas destas plantas invasoras foram intencionalmente plantadas em quintais e jardins, pela sua beleza exótica ou ainda pelo seu rápido crescimento. Por outro lado, muitas outras destas plantas invasoras que se encontram na cidade ocupam fogos habitacionais desocupados ou terrenos não geridos, trepando com facilidade os muros que separam  terrenos particulares e/ou articulam com o espaço público, espalhando-se muito facilmente por áreas vizinhas. Os espaços abandonados  são, por isso mesmo, fonte de disseminação de sementes de espécies invasoras que se espalham sem controlo.

Esta realidade é visível por todos nós, em especial durante percursos pedestre, pois a proximidade torna fácil, a um observador atento,  identificar espécies invasoras que começam a ocupar demasiado espaço no centro urbano, nas matas que rodeiam Braga, em terrenos agrícolas, nas margens do rio Este e do rio Cávado.

O combate às plantas invasoras é, pelas razões apontadas, um processo que requer uma gestão apertada do território, com união de esforços a nível público e privado.

É urgente identificar as plantas invasoras existentes e a sua localização nas freguesias urbanas e periurbanas (em ambiente terrestre e aquático), bem como a pressão que exercem no território, caracterizar a situação e definir soluções sustentáveis no sentido de as combater; com colaboração dos proprietários de terrenos ocupados por cada espécie invasora, na medida em que é necessário retirar as plantas de acordo com a técnica aconselhada pela equipa da Universidade de Coimbra que estuda e acompanha esta problemática há largos anos. Atuar com conhecimento e persistência, ano após ano, até à erradicação das espécies invasoras. 

Este é um problema que implica vontade política no sentido da proteção da biodiversidade e da paisagem, um esforço continuado a nível público e privado, bem como um investimento financeiro elevado. É  uma problemática de interesse público.

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